Opinião

Sabesp novamente na mira da privatização

Ao encaminhar a Mensagem nº 38,  de 22 de maio último, à Assembléia Legislativa de São Paulo, com pedido de urgência para sua apreciação, o governador Geraldo Alckmin busca reeditar a tentativa de privatização da Sabesp, ocorrida em 1998. Naquele ano, uma ampla mobilização dos técnicos e entidades ligadas ao saneamento fez com que o governador Mário Covas recuasse e abandonasse o chamado “parceiro estratégico”. Esse adquiriria 10% das ações da empresa – em poder da Fazenda Estadual – e teria direito a assentos nos conselhos e em três diretorias estratégicas (Financeira, Metropolitana de Distribuição e de Produção).

Com o Projeto de Lei nº 410/03, o Governo pretende alienar metade menos uma das ações ordinárias votantes. Hoje, por força da Lei 8.523/93, a Fazenda do Estado tem por obrigação uma participação mínima no capital de dois terços das ações da Sabesp.

Segundo o que se veiculou na imprensa, o governador, diante da queda de arrecadação do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), viu a necessidade de utilizar cerca de 20% das ações da empresa como caução para empréstimos junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no valor de R$ 600 milhões. Tal empréstimo teria por objetivo investimentos no Metrô e na CPTM.

Se a caução for efetivada com o BNDES, provavelmente se dará a mesma situação vivida hoje pela AES Eletropaulo, cujas ações deverão ir a leilão. A operação está em fase avançada de preparação, conforme o presidente do banco, e ocorre porque a empresa não saldou dívidas que ultrapassam os R$ 3,5 bilhões. Já segundo o “Relatório Reservado”, o Governo pretende leiloar essas ações.

O saneamento será duplamente penalizado. Primeiramente, porque os recursos obtidos com a venda ou caução dos empréstimos serão desviados para outra área pela Fazenda. Isso no momento em que o setor encontra-se em situação de penúria, devido ao contingenciamento de recursos imposto desde 1999, por força de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Hoje, os números mostram um retrocesso no setor com conseqüências desastrosas para a saúde pública. Como resultado, a expectativa de atingir a universalização dos serviços de saneamento básico no Estado foi transferida para a próxima década. O segundo problema é que quem adquirir essas ações exigirá participação ativa nas decisões estratégicas da companhia. Somente quem acompanhou o caso Sanepar pode entender o desastre que está por vir.

As entidades do setor procuraram o Governo, mas esse, de forma autoritária, não quis negociar e nem debater o projeto. Repete-se com a água a ação desastrosa no setor elétrico. A diferença é que agora, em vez de “apagão”, teremos o “secão”. Se a eletricidade é imprescindível ao dia-a-dia das pessoas e à atividade econômica, a água é vital e essencial à manutenção da saúde e, conseqüentemente, da vida. Aproxima-se mais uma crônica de um desastre anunciado, dessa vez também em forma de doenças.

 

Cid Barbosa Lima Junior
Diretor do SEESP e engenheiro da Sabesp

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