Memória

Tecnologia tornou confiável o homem do tempo

Lourdes Silva

 

A meteorologia é imprescindível na agricultura, pois determina períodos de plantio, desenvolvimento e colheita das safras, evita desperdício, reduz gastos com adubação e pulverização de inseticidas e minimiza as perdas naturais. Na construção civil, é essencial para conhecer a climatologia do local antes de projetar ou edificar uma certa obra. Na aviação, otimiza a rota para determinar o gasto de combustível. Na navegação, é orientação fundamental, posto que mais de 95% dos acidentes deve-se ao mau tempo.

Para ter todas essas garantias, o homem contemporâneo conta com sofisticada tecnologia e o papel fundamental da engenharia, que torna possível o que a meteorologia, através da física e da matemática, vislumbra ou necessita, conforme José Mauro de Rezende, coordenador geral de Sistemas de Comunicação do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Situação bem diferente viveram nossos antepassados que, mesmo sem ferramentas adequadas, aventuravam-se a prever o tempo. Na antiga Babilônia, há 4000 anos a.C., já se faziam observações dos fenômenos vindos dos céus. Contudo, apenas no ano 350 a.C. foi escrito, por Aristóteles, o primeiro tratado denominado “Meteorológica”. Os fenômenos atmosféricos até o século XVI eram atribuídos a causas sobrenaturais.

Só com a invenção do termômetro e do anemômetro, por Galileu (1590), e do barômetro, por Torricelli (1644), as observações meteorológicas passaram a ter caráter mais quantitativo e regular e permitiram instalar algumas estações na Itália. A partir de então, teve início a explicação dos fenômenos observados. “Isso embasava-se nos trabalhos científicos de Boyle (1659) sobre a relação entre volume e pressão do ar; de Hadley (1735), sobre a influência da rotação da Terra nos ventos alísios; de Franklin (1752), em eletricidade atmosférica; e de Lavoisier (1783), sobre a composição do ar”, informou o engenheiro eletricista Antonio Divino Moura, diretor do Inmet. No século XX, destacaram-se a teoria das frentes frias e quentes e a invenção da radiossonda, que permitiram análise da atmosfera em terceira dimensão; a invenção do rádio, que permitiu a transmissão de informações aos serviços de meteorologia; o radar, que propiciou localizar e acompanhar fenômenos catastróficos. E, finalmente, o advento do computador eletrônico, que deu impulso à previsão de tempo através da integração numérica das equações diferenciais, que regem os movimentos da atmosfera do planeta.

 

Experiência brasileira Durante a ocupação holandesa no século XVII, foram implantados no Brasil os primeiros postos de observação. Em 1888, foi constituída a Repartição Central de Meteorologia da Marinha, sendo a primeira tentativa de previsão de tempo anunciada durante a administração de Américo Brasílio Silvado. À época, eram feitas pesquisas no Observatório Nacional, no Morro do Castelo, Rio de Janeiro, com orientação do astrônomo Henrique Charles Morize, que produziu o primeiro esboço climatológico do País em 1891. No ano de 1909, foram unificadas as atividades desse observatório às da Marinha e do Telégrafo Nacional, com a criação da Diretoria de Meteorologia e Astronomia, do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Datam de 1913 os ensaios das primeiras previsões de tempo, publicadas no Jornal do Comércio pelo meteorologista Joaquim de Sampaio Ferraz. As previsões para o antigo Distrito Federal e Estado do Rio de Janeiro passariam a ser rotineiras a partir de 1917. O Governo Epitácio Pessoa, em 1921, criou a Diretoria de Meteorologia, do Ministério da Agricultura, desmembrado do Observatório Nacional – esse em 1990 passou a Departamento Nacional de Meteorologia e hoje é denominado Inmet.

Na década de 50, as previsões eram calculadas pela análise das cartas sinóticas de superfície (representação das informações ocorridas – parâmetros e fenômenos meteorológicos). O Brasil então contava com cerca de 150 estações de superfície mantidas pelo Inmet. “Com a expansão de nossa aviação, crescimento e diversificação da agricultura, problemas ambientais e poluição do ar, cresceu a necessidade de previsões de tempo com maior confiabilidade. Assim, ampliou-se a rede de observações, que hoje conta com cerca de 400 estações de superfície operadas pelo Ministério da Agricultura e 23 estações de sondagens de ar superior, operadas pelos ministérios da Agricultura, Aeronáutica e Marinha”, afirma Moura. Na sua avaliação, o advento do satélite, em 1969, com a capacidade de cobertura de todas as áreas do planeta e a atuação decisiva do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais de fazer uso dessa ferramenta de pesquisa e de prestação de serviços constituem marcos importantes para a meteorologia nacional.

 

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