V CETIC Reforma sindical do Governo é tragédia anunciada, conclui congresso do SEESP Rita Casaro |
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Organizar a resistência e impedir que seja aprovada a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que altera os artigos 8º, 11 e 37 e abre caminho ao projeto de lei que modifica a legislação sindical brasileira. Essa foi a conclusão do debate sobre o tema, realizado em 27 de novembro, na sede do SEESP, durante o V Cetic (Congresso Estadual Trabalho, Integração e Compromisso), que reuniu aproximadamente 200 dirigentes. As duas matérias chegaram na segunda quinzena de novembro à Casa Civil e devem se tornar públicas até 10 de dezembro, conforme informou o secretário Nacional de Relações do Trabalho, Osvaldo Bargas. Embora a versão final dos textos não seja conhecida, a divulgação das edições preliminares já trouxe grande perspectiva de que as mudanças convertam-se em sérias ameaças ao movimento sindical e mesmo aos direitos dos trabalhadores.
O engenheiro Jorge Gomes, presidente da CBP (Central Brasileira de Profissionais), entidade recém-criada que visa congregar os profissionais liberais, também foi taxativo quanto aos vícios dos projetos. “Mesmo sem conhecer a vírgula ou o artigo, não podemos permitir que essa PEC, que acaba com o sindicato por categoria, seja aprovada. Essa é uma luta de resistência pelo aperfeiçoamento e contra a destruição do nosso movimento.” O alerta descarta o encaminhamento previsto por Bargas, segundo o qual, enquanto a emenda à Constituição estiver sendo discutida no Congresso Nacional, será feito o debate sobre questões específicas como o caso dos engenheiros que, permeando todos os setores da economia, não poderiam se organizar por ramo de atividade. Insistindo a que o tema seja tratado já na Câmara Setorial de Profissionais Liberais criada para esse fim, o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, voltou a cobrar do secretário a implantação efetiva desse canal de discussão. A primeira reunião, que vem sendo adiada desde junho, ficou agora agendada para janeiro. Mais ponderado que os sindicalistas descontentes com o rumo da reforma, o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto listou o que considera as avenidas que devem ser seguidas no processo da reforma: legalização das centrais sindicais, representação no local de trabalho, aumento de representatividade e garantia de recursos viáveis às entidades. “Nesse sentido, o esforço que deve ser feito hoje é para a divulgação das várias propostas em discussão, a começar pela originada no FNT. Assim, podemos travar uma discussão séria com todos os participantes do movimento.” Na sua avaliação, nesse debate, haverá amadurecimento, entre outros pontos, quanto à necessidade de um tratamento diferenciado das categorias e entidades que representam profissionais com formação universitária e têm papel ativo no enquadramento do processo produtivo. Contudo, para que seja possível caminhar nessa direção, afirmou, é necessário “tirar da clandestinidade a PEC”. Um exame muito atento do que prevê o texto que altera a Constituição é o que recomendou o jornalista e diretor do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), Antônio Augusto de Queiroz. “A versão que circulou como sendo a que seria encaminhada para exame da Casa Civil é absolutamente genérica. Isso cria certa insegurança, porque a sua regulamentação se dá por lei ordinária, o que inclui medida provisória do Presidente da República”, observou. Assim, ressaltou ele, há diversas possíveis armadilhas nessas mudanças: “Um dos dispositivos da Constituição atual proíbe a intervenção na organização sindical. O texto novo fala em não-intervenção apenas nas entidades.” Além disso, elimina o conceito de categoria sem deixar claro o que o substituirá. Dessa forma, dá margem à representação por empresa ou andar de edifício. Outro ponto que poderia ser tratado e sanado já na PEC, segundo Queiroz, seria a garantia da representação específica dos profissionais liberais. Além dessas incertezas, ele chamou a atenção para a reforma do Judiciário, que acabou com o poder normativo da Justiça do Trabalho, exigindo que haja acordo entre patrões e empregados que levem seus conflitos a esse ente. Tal situação, lembrou o representante do Diap, coloca o trabalhador em situação desfavorável. “Haverá um embate grande no Congresso, então devemos estar preocupados para que essa intenção do Governo de oxigenar e tornar as entidades mais representativas concretize-se e venha em benefício do movimento e não deixe valer a vontade do empresariado”, concluiu.
Pessimista em relação a uma boa solução para o embate no âmbito do Congresso Nacional, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) foi categórico: “Nesse jogo sujo político, nós já perdemos, porque a base governista tem folgada maioria e a oposição apóia esse projeto”, disparou. Assim, a estratégia indicada por ele é vetar o assunto. “Não vamos aceitar discutir isso, vamos impedir qualquer reforma sindical e trabalhista”, asseverou. |
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Entidades derrotam Portaria 160 | |
O Governo, que não construiu um consenso para viabilizar a reforma, acabou unindo o movimento sindical contra a Portaria 160, do ministro do Trabalho e Emprego, Ricardo Berzoini. A medida impedia a cobrança da contribuição assistencial e confederativa de não-filiados. Tal fonte de custeio é aprovada em assembléia e viabiliza as negociações coletivas que beneficiam toda a base e não apenas os associados. “A Portaria 160 é uma verdadeira intervenção, como há muitos anos não víamos. Se existe irregularidade na cobrança, é obrigação do Ministério do Trabalho agir como órgão fiscalizador. Não podemos responsabilizar todo o movimento sindical por ações indevidas e ilegais”, criticou o presidente da CBP (Central Brasileira de Profissionais), Jorge Gomes, traduzindo a indignação de diversas lideranças. Em 17 de novembro, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o Projeto de Decreto Legislativo 1.125/04, do senador Paulo Paim (PT-RS), extinguindo a regra. O próximo passo, também negociado no Congresso, é votar um novo projeto que estabeleça limites ao valor da contribuição e sirva de medida transitória até que aconteça a reforma sindical e sejam criadas as novas regras de sustentação financeira das entidades. |
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