Opinião Água e alimento: desafio do século XXI Camila Beig Jordão |
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Em um futuro não muito longe, um colapso poderá ocorrer se a sociedade não se conscientizar da bomba que está por explodir e que pode exterminar a vida na Terra. Tendemos a supor que algo assim só acontecerá em milhões de anos, mas está prestes a ocorrer, podendo atingir nossos bisnetos, netos ou até filhos. Primeiramente, podemos citar a extinção das jazidas de fósforo (P) no mundo, as quais se extinguem em, no máximo, 250 anos de uso (87% delas são utilizadas pelas indústrias de fertilizantes). E sabemos que sem fósforo não há alimentos. Uma alternativa para solucionar a escassez é a utilização de lodo de esgoto tratado nas ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto) como fonte de fósforo, atualmente prática comum entre os agricultores. O potencial de reciclagem no Brasil é de 280 a 568 toneladas de fósforo por dia. No entanto, é preciso que o procedimento seja feito da forma adequada. A maioria das ETEs nos EUA e na Europa trata o efluente removendo o fósforo antes do descarte, através de precipitação com sais de ferro ou alumínio, um bom exemplo a ser seguido por nós. Caso contrário, a solução torna-se novo problema com a contaminação do solo. Aqui, cabe lembrar que, segundo dados da Sabesp, na Região Metropolitana de São Paulo, 80% da população é servida com rede de esgoto. Desse total coletado, só 62% recebem tratamento. Outra dificuldade conectada a essa questão é a garantia de água potável para as futuras gerações. Atualmente, a eutrofização (floração de algas tóxicas, as cianobactérias) dos cursos d‘água representa um risco alto à manutenção desse bem essencial à vida no planeta. Esse processo ocorre basicamente devido a um aumento significativo de nitrogênio (N) e fósforo (P) nas águas advindo, na maioria das vezes, da disposição de esgotos e efluentes não-tratados, bem como de fertilizantes no solo e na água. No caso da aplicação direta no solo (agricultura), os fertilizantes fosfatados, por meio de processos erosivos (ventos, chuvas etc), podem ser arrastados juntamente com as partículas do solo até encontrar rios, lagos etc. O problema, presente em vários países, pode gerar graves conseqüências. No Brasil, em 1996, a floração de algas atingiu a população no chamado Caso Caruaru, o qual consistiu em uma crise de hepatite aguda em um centro de hemodiálise. Pacientes sofreram perturbações visuais, falhas no funcionamento do fígado e outros morreram devido à utilização dessa água. Portanto, para enfrentar tais questões, é necessário criar diretrizes para um gerenciamento adequado das águas, como: ampliar a informação sobre eutrofização para a sociedade e autoridades; controlar as cargas nas fontes com a remoção de fosfatos e detergentes; e realizar pesquisas de aplicação de lodo de esgoto no solo como fonte de fósforo, objetivando a reciclagem e a melhoria da qualidade da água.
Camila Beig Jordão é engenheira agrônoma, mestre e doutoranda em Solos e Nutrição de Plantas pela Esalq/USP |
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