Opinião

A utopia do desenvolvimento sustentável

João Guilherme Vargas Netto

 

No segundo semestre do ano passado, os metalúrgicos de São Paulo, em campanha salarial, diziam querer transformar o crescimento econômico – que vinha ocorrendo – em desenvolvimento.

Existe mesmo uma diferença conceitual forte entre crescimento e desenvolvimento? O professor José Eli da Veiga afirma que sim. “Só há desenvolvimento quando os benefícios do crescimento servem à ampliação das capacidades humanas.” E cita as mais elementares: ter uma vida longa e saudável, ser instruído, ter acesso aos recursos necessários para um nível de vida digno, ser capaz de participar da vida da comunidade e ser livre para que suas escolhas possam ser exercidas.

A afirmação tão peremptória do professor faz parte de uma coleção de polêmicas e problemas que ele tem enfrentado e resolvido ao longo de sua vida acadêmica e profissional – já dirigiu, por exemplo, o Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), de onde foi defenestrado quando trombou com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) e o Governo Alckmin por conta da divulgação do índice de desemprego.

Uma outra caveira de burro do professor é o grau de urbanização do Brasil. Para José Eli, o critério de classificação do que é urbano ou rural conserva uma regra anacrônica da época do Estado Novo: é urbana qualquer sede de município (cidade) ou de distrito (vila). Com esse critério, o Brasil é oficialmente mais urbano que os Estados Unidos (80% contra 79%). Ao propor critérios estruturais e funcionais para a definição, o professor atropela a estatística, o planejamento e a política de urbanização vigentes.

A preocupação recorrente e fundamental de José Eli é a sustentabilidade do crescimento econômico. Ele se qualificou ao longo dos anos sobre o assunto (relacionando-o com a questão agrícola e a ecologia) e, embora revele aqui e acolá, um preconceito contra os ativistas da reforma agrária, merece ser levado em conta. Com prefácio de Ignacy Sachs, ele acaba de lançar pela editora Garamond o preciso e suculento livro “Desenvolvimento Sustentável – O desafio do século XXI”. A obra contém uma bibliografia apurada sobre o assunto e trata de maneira inteligente os conceitos de desenvolvimento e sustentabilidade, como podem ser entendidos e medidos. José Eli faz do desenvolvimento com sustentabilidade a utopia para o século XXI.

 

João Guilherme Vargas Netto
é consultor sindical do SEESP

 

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