Sindical

Evento aponta perspectivas para as campanhas salariais 2005

Soraya Misleh

 

Valorização profissional é o que anseiam os engenheiros. A bandeira foi levantada pelo analista sindical João Guilherme Vargas Netto durante o “Seminário sobre Campanhas Salariais”. Promovido pelo SEESP, realizou-se no dia 26 de abril, em sua sede na Capital paulista, e reuniu representantes de empresas e organizações patronais com que a entidade negocia, bem como dirigentes do sindicato.

Em sua quinta edição, conforme Vargas Netto, o evento assume caráter institucional. “Possibilita que temas de relevância nas negociações aflorem.” Na sua concepção, embora não elimine o conflito no decorrer do processo, que é inerente às relações capital-trabalho, permite descobrir “aqueles elementos invariantes capazes de aproximar as nossas atividades mútuas”. Sob esse ponto de vista, ele sugeriu um pacto contra os juros altos e a favor da diminuição da “impostologia”, bem como pela busca de investimento e desenvolvimento. Nesse contexto, João Antonio Del Nero, presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), garantiu que a luta é comum. A batalha se dará, entretanto, num terreno contraditório, como exemplificou Vargas Netto: “Temos um boom em alguns setores do transporte aéreo e em empresas do próprio segmento trabalhadores sofrendo humilhações como a infligida aos ferroviários.” Conforme o analista sindical, nessa lógica de valorização profissional, um dos objetivos nas campanhas salariais deste ano é avançar na discussão permanente sobre a responsabilidade social de todos na obtenção de melhores condições de trabalho.

As negociações acontecerão em meio aos debates acerca da reforma sindical, assunto que foi abordado por Marcos Pinto, jornalista e assessor técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), durante sua preleção sobre conjuntura nacional. Na sua ótica, os sindicatos precisam resgatar bandeiras que se contraponham a esse projeto de reforma – que antecede a trabalhista de cunho neoliberal, a qual visa eliminar direitos consagrados. Entre essas bandeiras, a pela redução da jornada.

 

As empresas – Gerente de Recursos Humanos do Metrô-SP, Fábio José do Nascimento afirmou estar confiante numa negociação mais rápida, que evolua para um acordo com o sindicato. “Vamos atentar para a pauta de reivindicações que nos foi enviada e a valorização profissional é um ponto importante.” Para Walter Sigollo, superintendente de Recursos Humanos da Sabesp, o desejo nessas campanhas salariais é de uma ótima negociação e que “a gente consiga valorizar a categoria e buscar seu desenvolvimento profissional e pessoal”. Em ambas companhias, a data-base é 1º de maio.

Firmar um acordo coletivo “de forma tranqüila” é, ainda, a expectativa de Marta Silva, superintendente de Recursos Humanos da Telefônica. Um dos pontos que devem ser mantidos, conforme sinalizou ela, é a utilização da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) como ferramenta de remuneração variável. A intenção é, também, garantir a data-base em 1º de setembro.

Niedja de Andrade e Silva Afonso, gerente de Relações Trabalhistas da Cosipa, acredita que será possível superar “o desafio de conciliar os interesses empresariais e as expectativas dos trabalhadores”. Entre os pontos a ser discutidos para o acordo com data-base em 1º de maio estão a manutenção da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e da reciclagem tecnológica. E a Embraer deve continuar com seu programa de desenvolvimento profissional, conforme sinalizou Eugênio Calil Pedro, gerente de Relações Trabalhistas e Sindicais da companhia. Valorizar seu pessoal também é a linha da CPTM, assegurou Mario Aparecido Vascão, gerente de Recursos Humanos da empresa. Todavia, a despeito do lucro que tem obtido, ainda “encontra limitações financeiras para atender ao item do PR (Plano de Resultados, equivalente à PLR)”.

No setor energético, cuja data-base é 1º de junho, o discurso, no geral, foi comedido. De acordo com Dubravka Sidonija Suto, gerente do Departamento de Recursos Humanos da Cesp, “por parte do órgão controlador, há amarras fortes no nosso poder de negociação”. Além disso, ela lembrou a conjuntura complicada, bem como a situação da empresa, cuja dívida é de cerca de R$ 11 bilhões. Contudo, asseverou: “Isso não nos impede de investir no desenvolvimento dos nossos engenheiros.” Destacou que neste ano o acordo terá que ser renovado na íntegra (itens sociais e econômicos) e citou duas cláusulas que entende como “um futuro a ser trilhado por trabalhadores e patrões”: uma relativa à imagem e qualidade dos produtos e processos na empresa e a outra à criação de comissão bipartite para tratar de segurança e saúde. Sobre o tema, Suto afirmou que está em discussão dentro da Cesp a NR 10, que afeta o setor elétrico. A norma também tem sido objeto de análise na Cteep, conforme o seu gerente do Departamento de Recursos Humanos, Orivaldo José Marcuzzo. Ele garantiu que cláusula que trata das condições de trabalho tem sido constantemente mantida na renovação dos acordos. Para este ano, ressaltou que há uma série de indefinições, já que há um processo em andamento de privatização da companhia. Além desse quadro de incertezas, Marcuzzo fez coro ao discurso de Suto: “Temos órgãos controladores que colocam limites na negociação. Mas, apesar das restrições, houve avanços nos acordos, como o investimento em educação corporativa.” Na opinião de Ronaldo Bento Trad, gerente da Divisão de Planejamento e Gestão de Recursos Humanos da CPFL, as dificuldades não devem impedir que se alcem vôos.

 

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