Saneamento Renovação dos contratos com a Sabesp é nó a ser desatado Soraya Misleh |
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Nos próximos cinco anos, a esmagadora maioria dos contratos de concessão dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto entre os municípios e a Sabesp vencerão. Dezessete expiram até o final do ano – aí incluídos alguns que já se encerraram e foram prorrogados provisoriamente – e mais 56 em 2006, informa Luiz Carlos Aversa, superintendente de Comunicação da empresa. No total, a companhia atende a 25 milhões de pessoas em 368 cidades. O acordo com Botucatu foi o primeiro a vencer, em outubro de 2004, e é um dos que foram estendidos e aguardam definição. Incerteza predomina ainda em cidades como São João da Boa Vista, Espírito Santo do Pinhal e Águas da Prata, outras cujos contratos já expiraram. Nessas localidades, segundo informa Luiz Alberto Cordon, delegado sindical do SEESP na região da Unidade de Negócios Pardo e Grande da companhia, 100% da população é abastecida com água. Nas duas primeiras, o índice se repete quando o assunto é coleta e tratamento de esgotos. E em Águas da Prata, o percentual também é elevado: 93%. Para que seja mantido esse padrão, bem como o subsídio cruzado – que permite o fornecimento nos municípios mais carentes –, entidades do setor defendem a renovação dos contratos de concessão. Dessa forma, preocupa-as a inércia por parte da Sabesp em relação ao assunto. “Não temos uma visão clara da empresa sobre qual a sua política para o tema e existe um movimento que vem sendo feito por alguns prefeitos que querem discutir um novo modelo de contrato de concessão”, explicita João Carlos Gonçalves Bibbo, vice-presidente do SEESP. Para tratar da questão, o sindicato, juntamente com outras organizações, após muita insistência, conseguiu audiência com o presidente da Sabesp, Dalmo do Valle Nogueira Filho, o qual assegurou ser intenção da empresa renovar os acordos. Todavia, o tema permanece obscuro. Aversa argumenta: “Estamos esperando a legislação federal que estabelecerá a nova regulação do setor de saneamento, a qual vem se arrastando há mais de um ano. E existem indefinições a respeito dos contratos de concessão, que agora, pela lei dos consórcios públicos, são tratados como contratos de programa.” Ele considera difícil tomar a iniciativa de renovar acordos nesse momento porque, na sua ótica, a nova lei do saneamento pode mudar as relações entre os entes da Federação e invalidá-los. Para o diretor do SEESP, Cid Barbosa Lima Júnior, a justificativa não é plausível. Na sua opinião, se houver alterações que interfiram nos contratos, bastará fazer um adendo a esses. E questiona: “A lei não está nem no Congresso, se demorar quatro anos para sair não se renova?” Ainda de acordo com ele, a de consórcios públicos – que regulamenta o artigo 241 da Constituição Federal, o qual dispõe acerca do tema e sobre convênios de cooperação entre os entes da Federação – deve fundamentar e dar as novas diretrizes para uma relação mais democrática entre a Sabesp e os municípios.
Riscos eminentes – Bibbo observa os possíveis caminhos caso o imbróglio não seja desfeito: a privatização dos serviços, a abertura de autarquia municipal ou formação de consórcio intermunicipal. “Em todas essas situações, os grandes prejudicados são a população e os empregados da Sabesp”, acredita. Lima alerta que “ao investidor privado não interessa manter o subsídio cruzado”. Assim, no novo cenário, “os municípios que dão prejuízo ficariam abandonados. Seria o caos no saneamento e para a saúde pública”. Por outro lado, cidades lucrativas têm atraído a atenção de empresas privadas. “Em Lins, onde 100% da população é abastecida com água, coleta e tratamento de esgoto, vereadores foram procurados para tratar dessa negociação”, constata Aversa. Nessa localidade, o contrato vence em 30 de setembro e o município apresenta como condições à sua renovação a gestão compartilhada e a discussão da estrutura tarifária. Se não houver acordo, deverá criar autarquia para assumir o serviço ou licitar a concessão à iniciativa privada – o que já encontra oposição na cidade. Um dos perigos da medida é que os investimentos necessários venham a ser atrelados ao aumento de tarifa, como aconteceu em Limeira, onde a água é privatizada, segundo lembra o superintendente da Sabesp. Com isso, é provável que boa parte da população não tenha condições de pagar pelo precioso líquido. E ainda, pode se reduzir o número de pessoas com acesso à água de qualidade. O próprio patrimônio público representado pela Sabesp estaria em jogo – e a intenção de desestatizar a companhia, desconfia-se, seria a verdadeira razão para o seu imobilismo no processo. O superintendente nega que haja essa pretensão e reitera que o objetivo da empresa é renovar os contratos com todos os municípios, desde que a concessão seja não-onerosa. Outro imbróglio nas negociações, já que muitas cidades incluem esse ponto entre as suas principais reivindicações. |
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Relatório mostra situação de bacias hidrográficas | |
Os municípios menores são os que mais enfrentam problemas de saneamento, como indicou relatório para o biênio 2002-2003 elaborado pelo Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Segundo o documento, divulgado recentemente, de 1993 a 2003, a situação dos recursos hídricos nessas bacias ligadas ao Sistema Cantareira evoluiu, apesar de ainda deixar a desejar, em especial em cidades entre 50 e 100 mil habitantes. Nesses dez anos, ainda de acordo com o relatório, cresceu de 79% para 85,10% a coleta de esgotos e 16,3% o tratamento desses na região. Além disso, em 2003, alcançou-se índice de abastecimento do “ouro azul” de 98%. Por outro lado, a qualidade das águas superficiais foi inferior em relação a 2002, principalmente devido às baixas precipitações fluviais. O relatório visa apresentar diagnóstico para a elaboração de metas e ações do Plano de Bacias Hidrográficas a ser realizado no período 2004-2007. Mediante o cenário apresentado, uma das recomendações é que sejam previstas ações objetivando o monitoramento e prevenção da poluição das águas subterrâneas nessa área. |
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