Editorial

Indústria nacional tropeça em inovação

A Pintec (Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 24 de junho último, trouxe um quadro pouco alentador para o assunto: o investimento ainda é baixo quando se trata de criar novos produtos e processos.

Segundo o estudo, a taxa de inovação subiu de 31,5%, em 2000, para 33,3% em 2003, com 28 mil empresas tendo se empenhado nesse sentido. Contudo, houve queda generalizada da participação dos gastos em relação à receita líquida, que era de 3,8% em 2000 e ficou em 2,5% em 2003. Entre as 32 atividades pesquisadas, apenas oito elevaram seu esforço inovativo. E somente seis setores aumentaram seus gastos com atividades internas de pesquisa & desenvolvimento. As companhias que se dedicavam a isso eram 7,4 mil em 2000 e ficaram em 4,9 mil em 2003. Os principais obstáculos encontrados pelas indústrias, conforme apurou a pesquisa, eram os custos elevados (79,7%), riscos econômicos excessivos (74,5%) e escassez de fontes de financiamento (56,6%).

Como não poderia deixar de ser, o quadro macroeconômico do período surgiu como determinante no tímido desempenho. “Confrontando-se a primeira (1998-2000) e a segunda Pintec (2001-2003), nota-se a influência de duas conjunturas econômicas distintas sobre a decisão empresarial de investir em inovação. Em 2000, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 4,4% e a indústria, 4,8%. Já em 2003, a indústria permaneceu praticamente estável (0,1%) e o PIB cresceu apenas 0,5%”, afirma o instituto.
A situação, bastante conhecida dos engenheiros e demonstrada pelo IBGE, é emblemática da nossa dificuldade em perseguir o real crescimento econômico com desenvolvimento social. Esse só virá, evidentemente, com investimentos públicos e privados em educação, pesquisa, ciência, tecnologia e inovação. Todos festejamos os bons resultados das exportações sustentadas principalmente pela agricultura. No entanto, também sabemos que o País não pode ficar à mercê dos preços de commodities, que oscilam ao sabor do mercado internacional.

Está mais do que na hora de o Brasil inserir-se na chamada globalização econômica com produtos de real valor agregado. A engenharia brasileira precisa de meios e oportunidades para contribuir com um projeto nacional de desenvolvimento de fato sustentável.

Tal hipótese, também obviamente, demanda uma guinada drástica na lógica financista que guia nossas autoridades atualmente. O que nos leva ao repetido e não ouvido apelo por redução das exorbitantes taxas de juros e do sufocante superávit primário que minam recursos tão necessários e urgentes ao País. Para se ter uma idéia da inversão de prioridades, em 2003 o Brasil gastou com pagamento de juros cerca de R$ 150 bilhões. Ou 75 vezes o valor que investiu em ciência e tecnologia: R$ 2 bilhões.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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