Editorial A inflação que ninguém segura |
|
|
|
Reportagem do jornal o Estado de S. Paulo, de 27 de junho último, trouxe em números o peso que cada brasileiro vem sentindo há muito no bolso. Segundo o IPDM (Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento de Mercado), neste ano, os gastos com tarifas somarão R$ 91,6 bilhões. Esse montante inclui água, esgoto, energia elétrica, telefonia fixa, gás de cozinha, condomínio e imposto predial, todos obrigatórios à manutenção de uma residência. A bolada corresponderá
a 7,5% de todo o consumo das famílias, estimado em Imunes à lógica – já elevada à condição de dogma – de aumentar juros para conter a atividade econômica e conseqüentemente a inflação, esses preços administrados continuam subindo e superam o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Só no início de julho, ficaram mais caros a telefonia fixa, cujo reajuste de 7,27% foi calculado com base no IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), e os pedágios, elevados em 9,075%, com base no IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado). Formados por uma cesta de outros índices, esses são afetados também pela variação do câmbio. Assim, em caso de desvalorização do real, tais preços podem subir drasticamente, afetando não só o orçamento doméstico do cidadão, como os esforços da equipe econômica. Lamentavelmente, em tempos de dólar barato, ao contrário do que se poderia esperar, as tarifas não caem. A regra perversa, que beneficia os operadores dos serviços públicos, obedece aos contratos estabelecidos por ocasião das privatizações – aqueles que, firmados no Governo passado, são considerados sagrados pelo atual. Além de ter de apertar cada vez mais o cinto e se aprimorar no malabarismo financeiro, resta ao cidadão comum a incômoda sensação de estar vivendo segundo um fundamentalismo econômico que não encontra correspondência na realidade. De um lado, uma política visando administrar a relação entre o PIB (Produto Interno Bruto) e dívida pública que lembra o cão correndo atrás da própria cauda – elevado superávit anulado por altas taxas de juros. De outro, preços que sobem sem controle e contribuem para o aumentar o custo vida. Seria mais que desejável que se alterasse alguma variável dessa equação, dessa vez em favor da população.
Eng.
Murilo Celso de Campos Pinheiro |
|
|
|