Ambiente

Árvores padecem na selva de pedra

Rita Casaro

 

Fundamentais para a qualidade de vida nos centros urbanos, com importante papel na minimização dos efeitos das alterações ambientais, as árvores nem sempre recebem o tratamento que merecem.

O diagnóstico da engenheira agrônoma e dirigente do SEESP Fabiane Becari Ferraz aponta o estado crítico em que se encontra a arborização nas áreas próximas à sede da entidade, na Capital. Privadas das condições mínimas de absorção de água e sem cuidados, as árvores que facilitam a vida de quem mora, trabalha e transita pela Rua Maria Paula, entre a Rua Genebra e a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, tendem a se enfraquecer, tornar-se suscetíveis a ataques de formigas, por exemplo, e até morrer.

“Na zona definida como piloto para o estudo que o SEESP propõe sobre esse problema na cidade constatam-se diversas irregularidades. Não foram mantidos canteiros com área permeável para infiltração de água no solo. Foi diagnosticada também situação de agressão, em que o recapeamento da calçada com uma camada asfáltica fez o coroamento da base do caule”, relata a engenheira.

O fim trágico dessas árvores significaria também acabar com inúmeros benefícios gerados por elas, entre os quais o conforto obtido pelo sombreamento da copa, aumento da umidade relativa do ar, por meio da evapotranspiração (processo de evaporação de água através da transpiração de plantas), redução dos efeitos causados pelas superfícies reflexivas das edificações e abafamento dos ruídos. Além desses, afirma a especialista, a existência de uma árvore na calçada pode propiciar aumento da diversidade e quantidade da fauna, redução da amplitude térmica, diminuição nos níveis de poluição, ainda que pontual, interrupção da monotonia da paisagem e absorção das águas pluviais.

A boa notícia, afirma Ferraz, é que o problema tem solução rápida, simples e barata. “Em alguns casos, embora os canteiros tenham dimensão reduzida, basta revolver a terra para permitir a infiltração de água regular. Em outros, é necessário quebrar o cimento ou asfalto, mas isso é plenamente possível”, explica.
Feito o diagnóstico e sugerida a saída, a idéia, segundo o vice-presidente do SEESP, João Paulo Dutra, é encaminhar o estudo à Subprefeitura da Sé e tentar sensibilizar a administração municipal para essa situação.

 

O jeito certo de plantar

 

O laudo produzido pela engenheira agrônoma Fabiane Becari Ferraz, com o objetivo de evitar que as árvores próximas à sede do SEESP fiquem condenadas, traz ainda uma receita básica para o plantio e cuidados.

• Espécies – Não existe uma espécie ideal para ser plantada em vias públicas, mas há inúmeras com características desejáveis. Essas devem ter porte adequado, forma e tamanho de copa compatível com o espaço disponível, ser preferencialmente espécies nativas de ocorrência regional; ter sistema radicular que não prejudique o calçamento, bem como as tubulações subterrâneas. A escolha deve priorizar as que produzam frutos pequenos e tenham flores e folhas menores. Deve-se evitar espécies que necessitem de podas freqüentes, tenham cerne frágil e ramos quebradiços.

• Plantio – A muda escolhida deve ser certificada, o que garante a sanidade da planta. Deve ter de 1,20m a 2,0m de altura. A cova deve medir 60x60x60cm, no mínimo. À terra deve ser acrescentado o adubo mineral e/ou composto orgânico. O colo da muda deve ficar ao nível da superfície. A muda precisa ser amarrada a um sarrafo de madeira (tutor), devendo ser solto conforme o crescimento da planta. É necessário irrigá-la de duas a três vezes por semana, principalmente no período de seca. Eliminar todos os ramos “ladrões” que nascerem próximos da base da árvore.

Trato – Deve-se respeitar invariavelmente a área permeável na forma de canteiro, faixa ou piso drenante ao redor da muda ou árvore adulta. Tal prática permite a infiltração de água para absorção pelas raízes das plantas, bem como a aeração do solo. O local jamais deve sofrer algum tipo de impermeabilização. Podem ser plantados grama, flores ou outra forração. A recomendação é que esse canteiro tenha no mínimo 1,0m² de área não-impermeabilizada para árvores de copa pequena e 2,0m² para espécie de copa grande, desde que respeitado o espaço de passagem de pedestres no passeio de 0,90cm, no mínimo.

 

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