Opinião

A corrupção nossa de cada dia

Celso Rodrigues

 

Nos bons tempos de criança, havia uma brincadeira em que se perguntava o seguinte: “Por que o cachorro entra na igreja?” A reposta era: “Porque encontra a porta aberta.” Se o leitor pensa que com a criação de uma CPI os atuais problemas relativos à corrupção ficarão resolvidos, está em tempo de rever as idéias. Já foram instaladas n (n+m) CPIs (onde n e m são números reais diferentes de zero) e, pelo jeitão da coisa, a corrupção continua firme e mais forte que o ataque do Corinthians.

Deve-se ainda considerar que a finalidade explícita da comissão parlamentar é apurar os fatos e indicar os culpados para que sejam punidos pela Justiça. A função da CPI é investigar o passado, não tendo, portanto, obrigação de produzir dispositivos que venham a inibir as práticas ora em apuração.

A mesma tendência se observa na opinião pública, que manifesta apenas indignação e repúdio aos fatos que surgem a cada momento. Nada no comportamento da sociedade organizada (Fiesp, Ciesp, movimento sindical, associações, igrejas etc) indica vontade política de combater a corrupção na suas raízes. Também não se vê tal disposição na imprensa, que não se empenha para esclarecer os cidadãos, incentivando-os a se mobilizarem e exigirem ataque às causas reais da corrupção e a instituição de mecanismos de segurança que tenham a função de, no mínimo, fazer soar um alarme sempre que algo de estranho estiver acontecendo.

Tal movimento seria fundamental, tendo em vista que o tamanho do buraco é bem maior que o mensalão. Conforme publicado na Revista Exame, de 20 de julho de 2005, o tamanho do rombo causado pela corrupção é de R$ 380 bilhões por ano. Além disso, anualmente, o País deixa de crescer 2% em decorrência dos crimes de colarinho branco. Se o prejuízo for somado ao longo das décadas, fica evidente o quanto o Brasil já perdeu. Para piorar, a corrupção que tira do pobre e dá ao rico acentua a má distribuição de renda, apontada como a causa de quase todos os problemas que nos afligem, como desemprego, violência, tráfico de drogas e miséria.

Assim, torna-se o nosso mais grave problema a apatia da sociedade diante da corrupção, que precisa ser tratada como uma doença muito séria que atinge a nossa Nação de forma tão danosa. A melhor forma de não resolver um problema é encontrar o culpado. Urge mudar o foco dos trabalhos. Não é mais o caso de se gastar tempo e dinheiro com casos isolados. As denúncias têm o defeito de ocorrer depois que os fatos se consumaram, os prejuízos já se realizaram e o dinheiro já sumiu, dificilmente sendo resgatado.

Temos que combater a corrupção, o que é completamente diferente de combater corruptos. O objetivo tem que ser a criação de mecanismos preventivos eficazes com a função de evitar que o mau uso do dinheiro público aconteça, antes que os fatos sejam consumados. Para exemplificar, depois que o Aqüífero Guarani estiver todo poluído, de nada servirá punir os culpados, pois todos os inocentes, mesmo os que ainda não nasceram, pagarão pelo erro.

Isso requer estudos sérios e vontade de trabalhar pelo bem de toda a comunidade, independentemente das disputas pelo poder, dos partidos políticos, das eleições. Se, porventura, tais mecanismos já existem, seguramente não se pode afirmar que são eficientes e eficazes, os fatos aí estão para comprovar.

Se o leitor tiver idéias de quais seriam os mecanismos adequados a combater a corrupção na sua origem e quiser partilhá-las, pode enviar mensagem para celsowww@ig.com.br. Vamos fechar a porta da igreja enquanto é tempo.

Celso Rodrigues
É vice-presidente da Delegacia Sindical do SEESP em Campinas

 

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