Tecnologia

Funcionários protestam contra demissões e corte orçamentário no IPT

Lourdes Silva

 

O respeitado IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) ganhou notoriedade nas ruas da Capital durante o mês de julho devido a um alerta. Outdoors espalhados pela cidade enfatizavam a importância do órgão vinculado à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, responsável por atividades como encapsular partículas microscópicas de sulfato ferroso e misturá-las a farinha para combater a desnutrição infantil, evitar desabamentos e deslizamentos de terra e avaliar a qualidade do combustível. E fazia a denúncia: “O Governo do Estado quer acabar com ele.”

A campanha, segundo Régis Carvalho, presidente da Assipt (Associação dos Funcionários do IPT), foi um protesto ao encolhimento da dotação orçamentária do Estado, reduzida em mais de 50% nos últimos dez anos, e à demissão sem aviso prévio de 71 funcionários, entre os quais 19 engenheiros. Ele afirma que, ainda em 2005, cerca de 30 pessoas perderão seus empregos e novos cortes estão previstos para 2006.

Carvalho se queixa também da “insensibilidade” do Governo, que vem reduzindo recursos e deixando que o IPT se mantenha com receitas próprias, oriundas da prestação de serviços tecnológicos à iniciativa privada, hoje responsáveis por 58% do orçamento anual de R$ 100 milhões. “Queremos continuar a atender a população e a vender serviços, mas também tranqüilidade para pesquisar e desenvolver tecnologias novas”, salienta.

Para o diretor-presidente do IPT, Guilherme Ary Plonski, a insatisfação não se justifica. Segundo ele, o órgão vai de vento em popa. Em 1º de junho último, foram criados seis novos centros, todos com foco em negócios: Metrologia Mecânica e Elétrica, Tecnológico de Ambiente Construído, Integridade de Estruturas e Equipamentos, Tecnológico da Indústria da Moda, Metrologia em Química e Tecnologia de Informação, Automação e Mobilidade. Segundo ele, até o final do ano, outros serão instituídos. “Com isso, o IPT dá um passo decisivo para um modelo empreendedor, alinhado à dinâmica do setor produtor e às necessidades das políticas públicas”, defende. O diretor confirma, contudo, que as mudanças pelas quais passa o IPT “devem respeitar o necessário equilíbrio econômico-financeiro”, o que levou à redução de cerca de 10% nos custos fixos com pessoal.

Plonski descarta outra preocupação do presidente da Assipt, de que o perfil mais empresarial do instituto prejudique a sua atuação pública: “O IPT está saindo de áreas que não são mais prioritárias, pois já há empresas com o domínio da tecnologia, e aumentando a eficiência das que são de apoio, com a eliminação de redundâncias.” Ele garante que setores como os de riscos geológicos, cuidado com cupins e microencapsulação estão preservados e sendo ainda mais valorizados. Esse último, afirma, contribui expressivamente para que o IPT tenha uma posição de destaque no campo das nanotecnologias, “a fronteira do conhecimento aplicado”. “É um desafio que o instituto está respondendo em estreita parceria com a indústria.” Recentemente, informa Plonski, teve aprovada uma proposta em conjunto com a Natura, na chamada pública do Ministério da Ciência e Tecnologia sobre o tema.

 
Centro de engenharia

O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) dedica-se a todas as etapas do processo de inovação tecnológica, abrangendo pesquisa, desenvolvimento, tecnologia industrial básica, engenharia não-rotineira, extensão, gestão e empreendedorismo. Assim, naturalmente, conta com a presença marcante de engenheiros em seus quadros próprios (289 profissionais) ou como colaboradores ligados às pesquisas no âmbito da pós-graduação (pelo Programa Novos Talentos ou como estudantes dos quatro mestrados profissionais) e pós-doutorado, além de integrantes de equipes de um projeto específico e a gestão do instituto.

Na área de inovação, pesquisa e desenvolvimento, equipes multidisciplinares realizam projetos para gerar produtos e processos para vários campos da engenharia. Esses são voltados à biotecnologia, reciclagem industrial, saneamento, petróleo, novos materiais e informática. Na de serviços tecnológicos, com apoio de 71 laboratórios, das suas 51 seções técnicas e de equipes de pesquisa, são elaborados relatórios técnicos sobre diagnósticos, estudos e análises teórico-experimentais. Também elabora programas de apoio a micro e pequenas empresas, às exportações, à garantia da qualidade e a políticas públicas. Investe na construção de habitats de inovação: incubadoras de empresas e de centros tecnológicos empresariais, parque tecnológico, núcleo de entidades profissionais e do terceiro setor.

 

Texto anterior

Próximo texto

JE 260