Editorial A crise e os trabalhadores |
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Nascida da denúncia de prática lamentavelmente comum no Brasil, a de corrupção no serviço público, a crise política nacional atinge dimensões cada dia maiores e mais chocantes. Já não é possível crer nas negativas quanto ao famigerado mensalão ou à existência do caixa 2 nas campanhas eleitorais. Em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), em 11 de agosto, o publicitário Duda Mendonça revelou ter aberto uma empresa de fachada e uma conta num paraíso fiscal para receber as dívidas referentes à campanha eleitoral de 2002. Essa, afirmou, seria a única maneira de reaver o dinheiro que o PT lhe devia, que passaria pelo profícuo valerioduto. Nas Bahamas, foram depositados R$ 10,5 milhões. Mais R$ 1,4 milhão foi providenciado pelo também publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza em dinheiro vivo. A essa bomba seguiu-se nova denúncia feita à revista Época, desta vez do ex-deputado Waldemar da Costa Neto (PL), que renunciou para escapar à cassação: o presidente Lula sabia do repasse de R$ 10 milhões ao partido aliado. A reação de Lula foi um curto pronunciamento à Nação, no dia 12, no qual disse estar indignado e se sentir traído como todos os brasileiros, a quem pediu desculpas pelos atos do PT e eventuais erros do Governo. Insatisfatória a quem esperava do primeiro mandatário melhores explicações e o anúncio de medidas concretas para esclarecimento dos ilícitos praticados por seu partido e punição dos responsáveis, a fala do presidente não eliminou as incertezas nas quais está mergulhado o País. O clima de transe, no entanto, não acaba com os problemas graves e reais que continuam a afligir a enorme parcela da população brasileira que sequer sonha em abrir uma conta num paraíso fiscal. Da mesma forma, os trabalhadores seguem com suas justas e concretas demandas por melhores condições de vida e defesa de seus direitos, freqüentemente ameaçados. Resta, portanto, ao conjunto do movimento sindical brasileiro articular-se em torno da luta por uma agenda que interesse de fato ao povo brasileiro. Enterrada a proposta de reforma sindical que muitos problemas traria à organização dos trabalhadores, cabe eleger uma pauta mínima que signifique avanços. CUT, agora com o novo presidente João Felício, Força Sindical, que recentemente realizou um importante congresso, as demais centrais e entidades independentes devem unir-se em torno de propostas como a redução da jornada de trabalho e aumento do salário mínimo. Continua também em pauta, enquanto persistir a suicida política econômica do Governo, o apelo por mudanças significativas nessa área. É urgente reduzir juros, que enriquecem especuladores, elevam a dívida pública às alturas e travam o crescimento econômico duradouro.
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