Giro paulista

Tecnologias de ponta levam marca campineira

Soraya Misleh

 

Com um orçamento de cerca de R$ 850 milhões que serve também para financiar parte da infra-estrutura de pesquisa e captação de recursos que garante a esse fim específico um montante adicional aproximado de R$ 130 milhões, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) tem contribuído para elevar o status da sua cidade-sede como pólo de desenvolvimento e se sobressaído na criação de tecnologias de ponta.

Os valores disponíveis para tanto foram apresentados pelo reitor da instituição, José Tadeu Jorge, e dão conta de um universo significativo de pesquisas. “Teoricamente, estamos diante de 15 mil delas, já que entre mestrado e doutorado são cerca de 15 mil alunos. A área tecnológica deve abarcar uns 30% desse total, o que vai dar por volta de 4 mil pesquisas associadas à pós-graduação. Tem também aquelas relacionadas a convênios com empresas”, enfatiza Jorge. Ainda para incrementar tais atividades, a Unicamp dispõe de agência de inovação.

Entre os muitos projetos ligados às engenharias, o reitor cita o encapsulamento de fármacos por meio da nanobiotecnologia. Com a participação da engenharia química, está em fase de testes em laboratório. Trata-se, explica Jorge, de revestir o fármaco com uma nanopartícula cuja propriedade é transportar a droga até o local exato: o órgão ou célula doente. De acordo com ele, como conseqüência, deve-se aumentar a eficiência do medicamento e reduzir a dosagem. Segundo publicado em julho último no Jornal da Unicamp, isso ocorre porque no fármaco encapsulado o princípio ativo é liberado lentamente e de forma controlada. Assim, com sua aplicação, não seria mais necessário por exemplo tomar comprimidos de seis em seis horas, bastando uma única administração.

 

Na vanguarda – Em busca de melhor eficiência, foi desenvolvida também na área de engenharia química da universidade técnica para extração da pró-insulina humana a partir do endosperma do milho geneticamente modificado. “É uma maneira nova de fazer insulina, que reduz custos de produção e permite uma oferta maior”, resume o reitor da Unicamp. Em outras palavras, a novidade pode ampliar o acesso ao produto dos que têm diabetes no País. Já em engenharia de alimentos, o trabalho teve como foco a aplicação da chamada “tecnologia supercrítica” para a extração do óleo comestível de produtos naturais. “Normalmente, o processo é por prensagem e não se consegue retirar tudo e otimizar o sabor. Ou mediante o uso de solventes, o que cria dificuldade adicional de ter que eliminá-los depois”, ensina Jorge. Com a técnica inusitada, tem-se, destaca ele, um produto melhor. “Diminui a possibilidade de haver resíduos indesejáveis.”

Nas modalidades civil e agrícola, as pesquisas também situam-se na vanguarda do conhecimento. A primeira refere-se à aplicação de serragem na construção em substituição a agregados como areia. “Além de se obter um material melhor do ponto de vista de conforto térmico para atuar como isolante, os custos são muito menores”, ressalta o reitor. E de acordo com matéria publicada em dezembro último no Jornal da Unicamp, há ganhos ao meio ambiente, já que a geração desse resíduo não é pequena – em todo o País, seriam em torno de 620 mil toneladas de serragem por ano. Ao setor agrícola, a novidade é um equipamento georreferenciado que mede com maior precisão o nível de compactação do solo.

Conforme o reitor da Unicamp, esses quatro projetos estão praticamente concluídos e devem ser licenciados pela universidade. O próximo passo será buscar interessados em desenvolver as aplicações. Segunda no ranking das instituições brasileiras que têm patente registrada no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), sendo superada apenas pela Petrobras, a Unicamp tem por objetivo precípuo, com esse trabalho, a formação de bons profissionais, assegura Jorge. Para isso, complementa, “é absolutamente indispensável fazer muita pesquisa”. Ele brinca: “O subproduto disso é fazer o desenvolvimento do País com essas tecnologias.”

 

A cidade em números

Área 887km²
População 969.596
Orçamento 2005 R$ 1,2 bilhão
Mortalidade infantil 11 por mil
Saneamento básico Atende com água potável encanada 98% da população urbana; 88% do esgoto coletado e 37% tratado (plano é chegar a 70% até final de 2007).
Analfabetismo 110 mil pessoas, segundo censo de 2000
Renda per capita R$ 1.459,00 (ano 2000)

Fontes: Prefeitura Municipal de Campinas e Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados)

 
 

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