Editorial

Privatização da Cteep: mais um equívoco anunciado

A intenção do Governo do Estado de vender a companhia de transmissão de energia para solucionar o grave endividamento da Cesp Paraná, a geradora que permanece sob controle estatal, aparece como um equívoco. Isso ficou ainda mais claro no seminário realizado pelo SEESP no dia 26 de setembro, em que se discutiram o resultado das privatizações no setor elétrico levadas a cabo nos anos 90, conseqüências da volta desse processo e alternativas a ele.

Em primeiro lugar, trata-se de lógica elementar. A Cesp acumula um passivo de cerca de R$ 11 bilhões.

Estima-se que o leilão da Cteep renda aos cofres do Governo não mais que R$ 2 bilhões, muito embora o patrimônio da empresa esteja avaliado bem acima disso. Ou seja, perde-se uma companhia eficiente e com as contas saneadas, enquanto a outra continuará na mesma difícil situação.

É preciso, portanto, lançar mão de criatividade, seriedade e espírito público para recuperar a capacidade da geradora de voltar a ser uma empresa eficiente e competitiva, essencial ao desenvolvimento de São Paulo e do País.

Na “Carta de São Paulo”, que repercute as principais conclusões do seminário sobre o assunto, tem-se a linha sugerida por técnicos e autoridades, para se alcançar tal objetivo:

  • É fundamental que haja correta organização do setor energético para se garantir o desenvolvimento do País e a sustentabilidade do crescimento econômico. Para que isso ocorra, são necessários investimentos de longo prazo e compromisso com o interesse público, tendo em vista a natureza do setor;
  • O processo de privatização no setor energético gerou aumentos tarifários abusivos, queda na qualidade dos serviços e desempregou especialistas experientes, o que teve não só o impacto social evidente como também rebaixou o nível técnico nas empresas. Além disso, o patrimônio público, erigido à custa do contribuinte e do trabalho de técnicos dedicados e qualificados, foi entregue a valores vergonhosos;
  • A gravidade desse processo é tal que exige ainda a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigá-lo, o que ainda não aconteceu por omissão do atual Governo Federal;
  • A retomada da política de privatização no Estado de São Paulo, anunciada pelo Governo, é extemporânea e não constitui solução adequada ao setor elétrico. Portanto, a opção pela venda da Cteep visa simplesmente a obtenção de recursos para pagamento de dívidas da Cesp, desconsiderando as implicações que tal medida terá para o setor e para a sociedade;
  • O valor de aproximadamente R$ 1 bilhão, que se estima será o arrecadado com a venda da Cteep, está muito longe de ser suficiente para quitar as dívidas da Cesp, em torno de R$ 11 bilhões, invalidando a argumentação do Governo;
  • A solução do impasse em torno do alto endividamento da Cesp passa necessariamente por um acordo entre os governos Estadual e Federal;
  • Impedir a privatização da Cteep deve ser compromisso de todos aqueles que defendem o setor elétrico e o interesse público. Para tanto, será necessária ampla e intensa mobilização, a exemplo do que se passou no Paraná por ocasião da ameaça de venda da Copel, que por fim permaneceu sob controle público graças à firme atuação dos representantes da sociedade civil, notadamente das entidades de engenharia.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

Texto anterior

Próximo texto

JE 264