Opinião

As dimensões políticas do referendo

João Guilherme Vargas Netto

 

Um dos desdobramentos previsíveis da crise política em curso é a enorme onda conservadora que se abaterá sobre o País. Ela reforçará o individualismo contra o coletivo, a iniciativa privada contra o Estado, o moralismo contra a ética e os preconceitos em geral.

Revigorados ideologicamente pela onda, os conservadores que fazem política e almejam o controle das administrações e instituições não hesitarão em brandir o tacape contra a política e até mesmo contra a democracia e os direitos humanos. O presidente do PFL, num arroubo, já manifestou sua satisfação raivosa com a derrota, por 30 anos, “desta raça” (referia-se à esquerda e ao PT). E um deputado provocador já levou impunemente para o palco das CPIs o trágico passado da tortura e da ditadura militar.

A onda conservadora não é apenas brasileira. Em sua variante militarista e fundamentalista, já assola os Estados Unidos e como expressão de estratégias econômicas abateu-se sobre o Japão e se abaterá sobre a Alemanha (se confirmada a derrota da social-democracia).

É neste contexto pessimista que o referendo sobre venda de armas e munições, previsto para o dia 23 de outubro, aparece como uma contra-tendência, já que foi concebido como ocasião de debates e decisões políticas maduras sobre um assunto que é, em geral, cercado de tabus e enfrentado preconceituosamente.

Os defensores da proibição da venda de armas e munições devem prestar atenção ao quadro político reconfigurado (depois da procrastinação no Congresso), às novas disposições da opinião pública e não subestimar as forças conservadoras que se arreganham.

 

João Guilherme Vargas Netto
É assessor do SEESP. Artigo publicado originalmente no site do Sinpro (www.sinpro.org.br), que se mobiliza pelo desarmamento

 

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