Editorial

O combustível dos desastres naturais

A devastação causada pelo furacão Katrina, que praticamente destruiu New Orleans, matando milhares de pessoas e deixando tantas outras desabrigadas, reavivou a discussão em torno do aquecimento global. Embora considerados “desastres naturais”, catástrofes como a que atingiu a cidade símbolo do jazz ou o Rita, que ameaçou o Texas e novamente a Louisiana, têm se tornado mais freqüentes e intensas devido à elevação da temperatura da Terra, defendem estudiosos.

Embora o Governo Bush sustente a tese de que a atividade humana nada tem a ver com o fenômeno, cientistas ao redor do globo e mesmo dos Estados Unidos vêm contestando com veemência a posição oficial sobre o assunto. E mais, denunciam o papel da política nas conclusões científicas, que impedem medidas efetivas para combater o aquecimento.

Foi o que fizeram Peter Webster e Judith Curry, do Instituto Tecnológico da Geórgia, em entrevista coletiva no início de outubro, conforme noticiado pela Agência CT, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Segundo eles, após analisar os furacões durante os últimos 35 anos, verifica-se que a maior fúria coincide com o aumento nas temperaturas do mar. Da mesma forma, a água mais quente na superfície oceânica também coincide com um incremento no número de furacões de categorias 4 e 5.

Para Webster, a partir de tal evidência, os países ricos precisam começar a agir e subvencionar energias renováveis e limpas no Terceiro Mundo. O cientista ressalta que tal postura seria conveniente a todos os habitantes do Planeta. Para desgosto do pesquisador, e da humanidade como um todo, o Governo americano já demonstrou sua indiferença ao destino do mundo quando recusou-se a assinar o Protocolo de Quioto, alegando que esse interferiria negativamente na economia.

O documento é o instrumento capaz de conter a elevação da temperatura global entre 0,02ºC e 0,28ºC no ano 2050, caso seja implementado a contento. Para atingir tal objetivo, é preciso reduzir a emissão de poluentes, especialmente de dióxido de carbono, em várias atividades econômicas e os países signatários devem reformar os setores de energia e transportes; promover o uso de fontes energéticas renováveis; eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da convenção; limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; e proteger florestas e outros sumidouros de carbono.

Além do poderoso Governo americano, o esforço de brecar crescimento predatório, que eventualmente vitimará a todos, enfrenta também a opinião pública dos Estados Unidos, majoritariamente alinhada à posição oficial. Pesquisa realizada pelo The Washington Post e pela rede ABC aponta que 40% dos cidadãos sequer acreditam que haja aquecimento global; 54% acham que furacões e tempestades são “uma dessas coisas que acontecem de vez em quando”; apenas 39% relacionam tais fenômenos à elevação da temperatura.

Aparentemente, nem uma tragédia em seu próprio território e com seu povo serviu de alerta de quão danoso acabou por se tornar o famigerado American way of life. Ao resto do mundo, alternativa é continuar lutando para que no futuro, que se espera não esteja demasiadamente distante, tal realidade se altere.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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