Editorial

Segue o arrocho no Ministério da Fazenda

Após denúncias de corrupção e embates diretos com a titular da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, atravessou as turbulências sem perder o cargo. A solução salomônica do presidente Lula para garantir o armistício em sua equipe – superávit primário oficial mantido nos 4,25%, podendo na prática ser maior, mas não acima dos 5% – se não piora, também não refresca a asfixia da produção nacional.

Mais que trocar o ministro, o que poderia mostrar-se inócuo ou desastroso, trata-se de o governo assumir uma atitude mais corajosa em relação à administração da economia. Isso, evidentemente, não significa lançar mão de medidas eleitoreiras ou irresponsáveis. Mas é inadmissível que o Brasil, depois de duas décadas de estagnação, não consiga aproveitar os bons ventos que percorrem o globo garantindo crescimento a diversas nações emergentes. Os 3% do PIB previstos para 2005 são irrisórios comparados aos resultados que serão obtidos por países como Argentina (7,5%), Venezuela (8%) ou Chile (6%).

Ainda que em números absolutos, pelo tamanho de sua economia, o incremento brasileiro represente mais riquezas, é indiscutível que o País poderia fechar o ano em melhores condições. Mesmo a promessa de 5% feita a Lula por Palocci para o período próximo às eleições de 2006 aposta mais na mediocridade que no “espetáculo” outrora prometido pelo presidente.

Seguiremos, assim, na mesma linha de administrar a relação dívida/PIB, hoje em 51,4%, ao custo de juros estratosféricos – já que o atual patamar de 18,5% só deve cair muito lentamente – e arrocho fiscal acima da meta oficial. Enquanto isso, esquece-se outra equação fundamental, a que diz respeito ao nível de investimento, abaixo dos 20%. Embora isso já tenha sido muito pior, chegando aos 12% no Governo FHC, como ressalva o professor Wanderley Guilherme dos Santos, não é suficiente para trazer a prosperidade necessária ao Brasil.

E é preciso lembrar que esses números não estão circunscritos ao campo da economia abstrata. Trata-se de repercussão real e imediata na vida da população. A falta de investimento em infra-estrutura, indústria e tecnologia de ponta, a dependência cada vez maior do agronegócio, que deixa o País à mercê da variação de preços de commodities e não agrega valor a nossa pauta de exportação, mina o futuro dos brasileiros. O mesmo se dá com o corte em gastos essenciais, tirados de programas de saúde, educação e assistência social para o pagamento da dívida.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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