Profissão

Competir em pé de igualdade no mercado global de software

Soraya Misleh

 

É o que permite a formação oferecida aos engenheiros de computação nas escolas brasileiras em geral. Quem garante é Moacyr Martucci Júnior, professor titular do Departamento de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo). “Nossos profissionais estão muito preparados para montar soluções”, enfatiza. O diretor executivo do ITS (Instituto de Tecnologia do Software), Descartes de Souza Teixeira, ressalva que, além dos dessa modalidade, estão entre os que a indústria de TI (tecnologia da informação) mais requer os engenheiros de produção, de sistemas e eletrônicos. À sua capacitação, ele concorda que, de forma geral, as instituições de ensino nacional são qualificadas. “Principalmente as públicas mais tradicionais, situadas nos grandes centros de excelência como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraná e Santa Catarina, formam profissionais de bom nível”, acrescenta.

Nesse aspecto, de acordo com Martucci, os brasileiros chegam a levar vantagem sobre seus colegas em países do primeiro mundo e mesmo sobre Índia – que, ao lado de Canadá, China e México, como demonstra pesquisa encomendada pela Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação), se destaca como fornecedora de serviços no mercado global de software. Na sua ótica, enquanto o país asiático se sobressai na programação, o brasileiro sai na frente quando o assunto é arquitetura de tecnologias de informação. O coordenador de graduação em engenharia de computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Ricardo Ribeiro Gudwin, atesta: “A formação dos nossos alunos é compatível com a possibilitada em grandes universidades dos Estados Unidos e às vezes até maior.” Sua conclusão fundamenta-se em experiência vivida pelos docentes na instituição paulista em que leciona: a dificuldade de revalidar diploma de estrangeiro formado em conceituada escola estadunidense, a Carnegie-Mellon, dada a deficiência de conteúdo em comparação ao curso da Unicamp.

Uma das grandes vantagens do Brasil face a nações desenvolvidas é, na concepção de Martucci, a capacitação multidisciplinar obtida pelos seus engenheiros, o que lhes permite maior facilidade em “transitar entre várias áreas do conhecimento e escolher a melhor solução para cada aplicação”. Na visão de Teixeira, se quanto ao custo da mão-de-obra a disputa é acirrada – “no País está uns 30% acima da Índia e China, mas bem abaixo dos Estados Unidos e Europa Ocidental” –, tal habilidade torna o brasileiro mais sofisticado. “Esse vai ser cada vez mais o nosso diferencial no mercado global”, aposta.

A despeito disso, a participação do País ainda é ínfima nesse segmento, constata o diretor executivo do ITS. “Está muito abaixo de 1%.” Para ele, uma das razões para a insignificante inserção nacional nesse mercado – cujas estimativas apontam, segundo informa, que deva movimentar em 2009 perto de US$ 1 trilhão e hoje situa-se entre US$ 650 e US$ 700 bilhões – está no déficit de pessoal capacitado. “A demanda está para pessoal com experiência em áreas de ponta do desenvolvimento do software e aí não tem gente suficiente”, afirma Martucci. Além de resolver essa defasagem, para Teixeira, é preciso mudar a estrutura tributária internamente. “Tem ainda que haver melhoria no desenvolvimento tecnológico e infra-estrutura.”

 

Deficiências
De acordo com Gudwin, enquanto na Índia existe um grande investimento nesse campo, no Brasil a realidade é outra. “Na maioria das universidades públicas nacionais, existe grande deficiência de investimento principalmente para renovar seu parque computacional. Em algumas, a situação é de semi-obsolescência. A exceção são as instituições paulistas, que têm se mantido bem aparelhadas.” Segundo o professor da Unicamp, as escolas privadas têm procurado correr atrás do prejuízo e vêm se equipando. Contudo, são carentes em bons profissionais, que “resistem a ir para as particulares, porque querem trabalhar com pesquisa”. Mesmo sem maquinário adequado, conforme Gudwin, o empenho desses docentes faz a diferença nas escolas públicas – é justamente o que garante a formação necessária aos profissionais para disputar um lugar ao sol no mercado global de software.

Desafio a ser superado pelos brasileiros nessa competição é o não-domínio de línguas estrangeiras. Martucci avisa: “Temos que fazer com que os alunos do primeiro ano de engenharia tenham consciência que precisam falar inglês ou pelo menos espanhol. Senão, estarão fora do mercado globalizado.” Para ele, programas de intercâmbio de estudantes entre escolas nacionais e do exterior – como o existente na Poli, que possibilita inclusive duplo diploma – são fundamentais à formação desse profissional. Joaquim Rocha, diretor de recursos humanos da Tata Consultancy Services Brasil – joint venture entre sua homônima indiana e o grupo brasileiro TBA –, ressalta que “mesmo cursando uma boa universidade, como as inovações tecnológicas e novas linguagens de programação são implementadas muito rapidamente, é fundamental uma ou mais especializações”. E conclui: “Isso pode ser um diferencial na hora de conseguir um bom emprego.”

 

 

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