Giro paulista

Lins testa reúso de efluentes na agricultura

Lourdes Silva

 

A utilização de esgoto doméstico tratado em culturas de café, milho, girassol, cana-de-açúcar e capim tem sido testada como forma de economizar água e fertilizantes na cidade de Lins. O projeto está em andamento desde 2001, funcionando no campo experimental próximo à lagoa de estabilização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico no Estado de São Paulo).

A iniciativa é resultado de parcerias entre a companhia estadual, a Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), através do Nupegel (Núcleo de Pesquisa em Geoquímica e Geofísica da Litosfera), e outras unidades da Universidade de São Paulo, como Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), Escola Politécnica, Faculdade de Saúde Pública, Instituto de Ciências Biomédicas, Escola de Engenharia de São Carlos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. É financiada pelo Prosab (Programa de Pesquisas em Saneamento Básico).

O coordenador do trabalho, Adolpho José Melfi, ex-reitor da USP e professor titular do Departamento de Solo da Esalq, explica que os efluentes tratados são substitutos, por exemplo, como fonte de nitrogênio, normalmente adicionado ao solo por meio de fertilizantes extremamente caros. Contêm ainda matéria orgânica e fósforo, que também são nutrientes importantes. Outra vantagem do reúso de esgoto na agricultura, ensina o professor, é que a terra servirá de filtro, evitando que o dejeto vá diretamente para o rio e diminuindo a possibilidade de eutrofização dos corpos de água (floração de algas tóxicas, as cianobactérias).

 

 

Além disso, “sua utilização na irrigação implica redução de fertilizantes minerais necessários para obtenção de altos rendimentos”, garante Adriel Ferreira da Fonseca, pós-doutorando pelo Cena em Piracicaba. Segundo ele, nos experimentos feitos em Lins, a economia de fertilizante nitrogenado tem sido de 32,2% a 81% no plantio do capim Tifton 85. No de milho, de aproximadamente 50%. Como o setor agrícola consome 60% a 70% da água captada no Estado, acrescenta, a substituição pelo efluente promoverá alívio na demanda por recursos hídricos, poupando-os para atividades humanas.

Américo de Oliveira Sampaio, assessor para Desenvolvimento Tecnológico da Diretoria de Tecnologia e Planejamento da Sabesp, salienta que o resultado mais promissor, nesses cinco anos do experimento, é que não houve indicação de contaminação do lençol freático monitorado na estação. “Isso é de extrema relevância, uma vez que um dos focos do projeto é a preservação da qualidade dos recursos hídricos”, afirma.

 

Legislação
Wanderley da Silva Paganini, assistente executivo da Diretoria de Sistemas Regionais da Sabesp e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, alertou para a inexistência do devido arcabouço legal para que a idéia deslanche. Um passo nesse sentido, segundo Célia Regina Montes, vice-coordenadora do projeto e professora do Cena, já foi dado. Ela informou que foi aprovada a Resolução nº 54, de 28/11/2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, que estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reúso direto não-potável de água, para fins urbanos, agrícolas, ambientais, industriais e na aqüicultura — que aguarda publicação. Do ponto de vista federal, estão em formação grupos de trabalho em cada uma dessas áreas para estabelecer parâmetros de aplicação. No âmbito estadual, a Cetesb está elaborando uma instrução técnica para disposição de esgoto tratado na agricultura.

 

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