Economia Trajetória e apuros da classe média Rita Casaro |
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Apesar da insistência das equipes que se sucedem no governo em manter uma política cuja ortodoxia e obsessão em controlar a taxa inflacionária inviabiliza crescimento significativo, será difícil encontrar quem duvide da importância da expansão econômica para o desenvolvimento do País. Se a estagnação é um mal geral para a população, seu estrato social intermediário acusa o golpe mais diretamente que os demais. O diagnóstico está no primeiro volume do “Atlas da nova estratificação social no Brasil”, cujo tema é “Classe média – desenvolvimento e crise”. Publicado em março último pela Cortez Editora, o livro tem como organizadores Alexandre Guerra, Marcio Pochmann, Ricardo Amorim e Ronnie Silva. O objetivo da série de pesquisas, de acordo com a apresentação da publicação, “é mapear, do ponto de vista econômico, a nova composição, papéis e aspirações dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira. É uma tentativa de avançar na compreensão das mudanças sofridas desde os anos 90, quando políticas econômicas de corte neoliberal deram o tom e, para o bem ou para o mal, forçaram o País a construir, sobre novas bases, sua produção, suas trocas e sua distribuição”. Outros quatro estratos sociais serão abordados nos volumes seguintes: “Trabalhadores urbanos – ocupação e queda na renda”, “Proprietários – concentração e continuidade”, “Agregados sociais – exploração e exclusão social” e “Trabalhadores rurais – trabalho e transformação”.
Percurso Tal processo teria se estendido até a emergência da chamada sociedade pós-industrial, quando registraram-se importantes transformações: o enxugamento do emprego no setor industrial, concentração de postos no terciário, o surgimento do chamado analista simbólico, ou o sujeito social ligado à tecnoestrutura, e as novas relações de poder que derivam desse novo sujeito, nas quais a classe média tem lugar privilegiado. Os efeitos dessas mudanças fizeram-se sentir especialmente a partir dos anos 90, quando a privatização, a terceirização e a desindustrialização avançou fortemente no País. “Entretanto, não foram atingidas, em maiores dimensões, as ocupações referentes à camada média baixa e à camada média alta. O ajuste concentrou-se nos cargos e funções da média camada média, recaindo sobre ela a maior carga das reestruturações do emprego.” O resultado foi o empobrecimento desse nível intermediário. Enquanto isso, os mais ricos desse estrato tiraram proveito da financeirização da economia, com a qual puderam lucrar enquanto era abandonado o projeto produtivista.
Contradição Pelo mesmo motivo, a classe média tenderia ao conservadorismo e seria uma aliada da classe dominante na manutenção do status quo quanto à alta concentração de renda no Brasil. Considerando-se que um projeto real de avanço terá de incluir distribuição dos ganhos, elevando o nível de escolaridade, saúde, consciência social e até auto-estima dos mais pobres, esses passariam a disputar com a classe média espaço nas escolas e no trabalho. Além disso, a mudança encareceria as tarefas tradicionalmente desempenhadas por essas pessoas, deixando a classe média sem condições de ter, por exemplo, empregados domésticos. “De um lado, o sonho de modernidade, de progresso, de competência, de sucesso; de outro, o favor, o contato, o apadrinhamento, os serviçais, a aparência”, resume o livro. |
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Quem
é e onde está Na região Sudeste, estão 57,2% das famílias de classe média, 33% delas apenas em São Paulo. No Sul, estão 18,3%; no Nordeste, 12,5%; no Centro-Oeste, 7,3%; e no Norte, 4,7%. A maioria dos chefes de famílias de classe média são homens (81,4%), brancos (68,2%), que freqüentaram escolas (92,3%), chegando ao nível superior de ensino (48%). A maior parte ainda é empregada com carteira de trabalho assinada (34%), seguida pelos que trabalham por conta própria (24,2%). |
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