Editorial Desrespeito à democracia |
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A terça-feira, 6 de junho, foi um dia lamentável para quem preza as instituições democráticas. O primeiro episódio aconteceu na Câmara dos Deputados, invadida por membros do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra). Segundo relatos de testemunhas, ao serem barrados por policiais, os manifestantes decidiram entrar à força, o que incluiu empurrar um automóvel contra a portaria de vidro e atirar paus, pedras e cones de sinalização. Rompido o cerco, a destruição continuou a caminho do acesso ao plenário. O ato, de difícil defesa por quem quer que seja, é inútil ao próprio movimento, que põe contra si a opinião pública, emitindo mensagem nada clara à sociedade. No limite, compromete a própria luta pela reforma agrária, que nada tem a ganhar com a depredação do Parlamento. No atual momento, quando a imagem do Congresso Nacional encontra-se bastante atingida graças a desmandos de deputados e senadores, cabe buscar a punição dos infratores e o fortalecimento do Estado de Direito, não o ataque a um de seus pilares fundamentais. Se é surpreendente que um movimento social organizado desrespeite uma casa de representação do povo, é ainda mais chocante que atitude semelhante parta de um membro do primeiro escalão do Governo do Estado. Pois no mesmo dia em que o MLST quebrava obras de arte na Câmara dos Deputados, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, ironizava os deputados na Assembléia Legislativa e se negava a prestar esclarecimentos sobre os ataques do PCC, que aterrorizaram a população entre 12 e 19 de maio. Apoiado por uma claque de policiais, cujas viaturas tomaram o estacionamento da Assembléia, o secretário, por quatro horas e meia, respondeu com deboche às perguntas dos parlamentares. Entre os gracejos a que se permitiu, batuques na mesa e levantar-se de braços erguidos, como se estivesse rendido numa blitz, ridicularizando um deputado. Ao se comportar dessa maneira, mais que agredir a oposição ao Governo na Assembléia, talvez o seu objetivo, ele atinge os cidadãos paulistas a quem a casa representa. É a esses que Abreu Filho deve explicações sobre a política e as ações de segurança pública e absoluto respeito. Infelizmente, ficou devendo ambos. Aos paulistas, restou
a perplexidade diante do fato insólito, partindo de uma autoridade,
muito embora o próprio governador Cláudio Lembo tenha considerado
o comportamento do secretário como “compreensível”,
conforme divulgado pela imprensa. Eng.
Murilo Celso de Campos Pinheiro |
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