Opinião Zarattini, a paixão revolucionária Célia Sapucahy |
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A obra de José Luiz Del Roio, publicada este ano pela Ícone Editora, narra a vida de Ricardo Zarattini Filho, devotado militante comunista. Começando ainda antes do seu nascimento, na cidade de Campinas em 1935, o livro fala de sua ascendência italiana, do avô imigrante e do pai que, paralelamente à profissão de pedreiro, exerceu a de ator, tomando parte em vários filmes no início do cinema nacional. As primeiras influências políticas deram-se quando era aluno do tradicional Colégio Estadual Culto à Ciência e o início da militância, em 1952, quando aderiu ao movimento “O petróleo é nosso”. Em 1954, com o ingresso na Escola Politécnica da USP e o turbilhão político em que vivia o País, entra para o movimento estudantil. Graduado engenheiro civil, Zarattini, que havia se casado em 1957, estagia em alguns escritórios antes de trabalhar na Cosipa, de onde foi demitido por desmascarar falcatruas nas contas da antiga empresa estatal. Um novo emprego o envia ao Nordeste e um choque cultural direciona definitivamente sua vida. Tomado por uma “paixão revolucionária”, Zarattini passa a viver para resgatar milhões de brasileiros que viviam na miséria e sob a violência de patrões. Contudo, é após o golpe militar que se inicia de fato a saga de Zarattini. Ele, que havia sido preso em 1952, durante a campanha “O petróleo é nosso”, e uma segunda vez durante uma entrevista coletiva de Carlos Lacerda, experimentou no Recife, em dezembro de 1968, bárbaras torturas. Fugindo para São Paulo, foi novamente preso e torturado pela Oban. Libertado na troca pelo embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick, Zarattini viveu no México, Cuba, Itália, França, Chile e Argentina. Em 1973, volta ao Brasil e, em 1978, é novamente preso e torturado, desta vez pelo DOI-Codi. No ano seguinte, por fim, a anistia. Companheiro de lutas do biografado, Del Roio pôde, com propriedade, traçar um paralelo entre a vida daquele e a própria resistência à ditadura militar no Brasil. Essa saga, que aconteceu quase toda na clandestinidade, vem sendo contada aos pedaços pelos seus diversos protagonistas em diferentes livros e entrevistas e funcionam como figurinhas que preenchem um álbum. A cada pacotinho, encontram-se menos novidades, mas as poucas que conseguimos completam nossa página e, no caso, lançam luz sobre pontos ainda obscuros desse episódio da vida nacional. A obra de Del Roio, além de oferecer ao leitor um emocionante relato, no qual salta aos olhos a efervescência da personalidade de Zarattini, ajuda a eliminar algumas dessas lacunas.
Célia
Sapucahy
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