Editorial Suspensas demissões na ALL, resta preocupação quanto ao papel do BNDES |
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Ao comprar a Brasil Ferrovias, a ALL (América Latina Logística) tornou-se a maior empresa do setor na América Latina. Para marcar esse tento, contou com a adesão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que detém R$ 1 bilhão em ações da nova companhia. A expectativa do órgão de fomento com a operação, conforme divulgado pela imprensa em maio último, além de recuperar os créditos junto à Brasil Ferrovias, é que até 2009 sejam realizados investimentos na continuidade da recuperação da via permanente, aquisição de vagões, construção de pátios e novos terminais de transbordo. Esperava-se que não estivesse nos planos do banco público a demissão de 1.926 funcionários, que agora se somam aos milhões de desempregados no Brasil. A cerca de 120 desses, entre os quais mais de 50 engenheiros, a empresa sequer queria pagar a indenização trabalhista prevista em acordos coletivos desde os anos 90 e ratificada em acordo judicial assinado pela Ferroban em 2002. Demonstrada a irregularidade da medida, após diversas rodadas de negociações e uma audiência na 1ª Vara do Trabalho de Campinas, em 23 de junho, essas dispensas estão suspensas até o dia 10 de julho. Trata-se sem dúvida de uma vitória para a categoria. Até lá, o SEESP, juntamente com as demais entidades sindicais, atuará por uma solução negociada que proteja os direitos dos trabalhadores. O episódio, no entanto, traz a lamentável impressão de que os maus hábitos dos anos 90, quando o BNDES financiou a compra de inúmeras empresas públicas, processos que invariavelmente foram seguidos de drásticos cortes de pessoal, não foram abandonados. À época, foi à custa do dinheiro público que se desmontou, por exemplo, o setor elétrico brasileiro. Sem se preocupar sequer em obter garantias, o banco arcou com calotes gigantescos da AES Eletropaulo, que jamais foram plenamente recuperados. Não seria razoável que investidores beneficiados com empréstimos baratos do banco ou pela sua participação em aquisições tivessem compromissos com a manutenção do emprego? Não é esse item essencial do desenvolvimento econômico e social? O SEESP,
juntamente com a FNE, lançou o projeto “Cresce Brasil + Engenharia
+ Desenvolvimento”, cujo objetivo é a retomada do crescimento
com inclusão social (leia
sobre atividade em Santos). Nos seminários realizados até
agora, fica claro que em qualquer plano dessa natureza o BNDES tem papel
preponderante. Tendo em vista os parcos recursos disponíveis, o
País não pode se dar ao luxo de utilizá-los de maneira
não-estratégica ou contrariando seus próprios interesses. Eng.
Murilo Celso de Campos Pinheiro |
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