Tecnologia Brasil visa produzir hidrogênio a partir do álcool Soraya Misleh |
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Para uso tanto ao fornecimento de eletricidade quanto no mercado de combustíveis, em menos de 20 anos, o hidrogênio deve estar inserido na matriz energética nacional. O primeiro deverá servir em especial ao atendimento de comunidades isoladas e o segundo, ao transporte coletivo urbano. É o que consta de documento publicado no site do Ministério de Minas e Energia que apresenta as bases ao desenvolvimento do mercado de hidrogênio no Brasil. Divulgado em 2005, esse aponta que o insumo à sua produção inicialmente seria o gás natural, uma vez que o desenvolvimento dessa tecnologia estaria mais avançado. A partir de 2020, seriam usadas para tanto, majoritariamente, fontes renováveis – com prioridade ao etanol, em cuja manufatura e exportação o País é líder. De olho no futuro, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) vem trabalhando nisso há mais de uma década. Na instituição, as pesquisas sobre o tema ganharam impulso a partir de 1992, quando começou a haver maior preocupação com a questão ambiental, segundo atesta o professor Ennio Peres da Silva, coordenador do projeto e do Laboratório de Hidrogênio da universidade. A meta, de acordo com ele, era, em dez anos, ter um carro a hidrogênio, que garantisse emissão zero de poluentes. O projeto foi denominado Vega 1 e uma equipe multidisciplinar, que incluía profissionais dos departamentos de Engenharia Elétrica e Mecânica e do Instituto de Física, passou a se dedicar ao seu desenvolvimento. Ele conta que veículo híbrido, a baterias e motor adaptado a hidrogênio que garantia geração de eletricidade, foi concluído em 1995. “O passo seguinte foi substituir o motor gerador por célula a combustível (que transforma energia química em elétrica para acionar o motor).” Isso só foi possível cinco anos depois, quando o Ministério de Minas e Energia disponibilizou ao projeto R$ 400 mil para a compra do dispositivo, única peça que precisou ser importada, dos Estados Unidos. Assim, em 2004, estava pronto o protótipo a hidrogênio, batizado de Vega 2, nesse caso oriundo do etanol. A pesquisa finalizada na seqüência visa levar o equipamento reformador do álcool para dentro do veículo, em substituição ao tanque de hidrogênio (célula) – é o chamado Vega 3. Ou seja, o modelo anterior seria abastecido com o gás. Já esse último o seria com álcool, transformado no interior do carro. O passo mais recente foi, segundo o professor, desenvolver a tecnologia do equipamento a ser colocado em postos para gerar hidrogênio através do etanol.
Benefícios Na sua ótica, o carro a hidrogênio – sem o reformador a bordo, que tornaria a produção para o mercado impraticável – seria viável comercialmente. Poderia ser oferecido em um preço inicial nada modesto de cerca de US$ 50 mil. Mas o objetivo, com as pesquisas, não é produzir esses veículos no Brasil e sim viabilizar a tecnologia, explica Silva. “O que queremos é fornecer o combustível hidrogênio através do álcool, que é renovável, é nosso, gera economia, divisas, empregos e não emite poluentes.” Segundo o professor, em países desenvolvidos, o hidrogênio já está sendo testado, mas é obtido através de fósseis (gás natural, carvão, gasolina, energia nuclear). No Brasil, projetos estão em andamento, como o coordenado pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), feito em conjunto com o Ministério de Minas e Energia e PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), com recursos do GEF (Global Environment Facility) e contrapartida da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) – US$ 12,5 milhões da entidade internacional e US$ 3,8 milhões da nacional. “Está em fase de implementação. Incluirá cinco ônibus híbridos (a bateria e a hidrogênio) que circularão por quatro anos no corredor São Mateus-Jabaquara. A previsão é que o primeiro entre em operação no início de 2008. Ao término desse ano, deve começar a rodar o restante”, informa Marcio Schettino, gerente de Desenvolvimento da EMTU e coordenador nacional do projeto. Nessa linha, a frota é de quase 200 veículos – 1/3 dos quais trólebus –, que servem diariamente 210 mil passageiros. “Cada um roda, em média, 300km/dia.” Conforme ele, o objetivo é desenvolver o mercado no Brasil. Na sua ótica, a tecnologia deve estar disponível no País em dez ou 15 anos. Entre as vantagens, além de substituir os poluentes ônibus a diesel, a possibilidade de a empresa colocar em circulação carros a hidrogênio nos horários de pico, em lugar dos trólebus, que são penalizados com a tarifa de energia horo-sazonal no período e conflitos com as distribuidoras para fazer a manutenção. “Há ainda um ganho de mobilidade, já que não é preciso rede aérea.” Embora nesses primeiros veículos o hidrogênio seja oriundo da eletrólise da água – cujo desenvolvimento tecnológico estaria mais avançado que o de uso do álcool –, ele reconhece o potencial nacional na produção do gás através do etanol. |
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