Sindical

Criar o consenso pelo desenvolvimento

Rita Casaro

 

O movimento sindical nunca teve tão boa oportunidade de ser protagonista na criação de um consenso político pelo desenvolvimento nacional. A opinião é do economista Marcio Pochmann, pesquisador e livre-docente do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) da Unicamp. “O fato de o presidente ser originário dessa base social cria, sem dúvida, melhores condições de interlocução”, afirma.

Para que isso se concretize, no entanto, avalia, é preciso que o próprio movimento esteja consciente da necessidade de estabelecer tal convergência. “Tem claro que o crescimento é importante, mas como tem uma série de outras bandeiras, a pauta é enorme. E, assim, não se estabelece uma prioridade. Essa poderia ser justamente a luta pelo pleno emprego, que, no fundo, é a base para a conquista de muitas outras reivindicações dos sindicatos”, alerta.

Na opinião de Pochmann, tal convergência política é o único real obstáculo para que se retome o desenvolvimento. “O Brasil é um dos poucos países que de fato pode ter uma expansão de 5% do seu Produto Interno Bruto (conforme vem prometendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva). Temos uma estrutura produtiva que garante isso e simultaneamente uma enorme mazela social e precária infra-estrutura. Faltam estradas, ferrovias, há a questão aeroportuária, o déficit habitacional atinge 7 milhões de famílias. As condições, portanto, estão dadas.”

 

Agenda renovada – Praticamente desde a redemocratização lutando por conquistas sob as difíceis condições de uma estagnação econômica, o movimento sindical dá mostras de já ter despertado para a necessidade de lutar por mudanças nos destinos econômicos do País. A FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) lançou o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” e tornou a questão item permanente e prioritário da sua agenda. “Estamos conscientes tanto da possibilidade quanto da urgente necessidade de tirar o País desse marasmo. O engenheiro é o profissional do desenvolvimento. O bloqueio ao crescimento da economia nos últimos 25 anos repercutiu gravemente sobre ele”, afirma Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente da FNE e do SEESP.

Afinado com a proposta, o presidente da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), Antonio Carlos dos Reis, o Salim, defendeu a meta de 5% de crescimento em 2007. “Isso é razoável, mas acima desse patamar pode-se ter um colapso em várias áreas, como a de energia elétrica.” Alcançar o resultado, segundo ele, exigirá mudança de foco na política econômica, reduzindo-se o superávit primário e destinando-se recursos para a área de infra-estrutura. “Os trabalhadores devem estar vigilantes e fazer as cobranças para que isso se concretize. Nesse sentido, o projeto dos engenheiros deve ser debatido com as centrais para que o movimento sindical como um todo tenha nele uma ponte para o desenvolvimento”, propôs.

 

Pressão nas ruas – Pouco confiante de que o governo cumpra a promessa de acelerar o crescimento já a partir de 2007, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, também aposta no empurrão dos trabalhadores para que aconteçam as mudanças necessárias. “O compromisso demonstrado até agora é com a estabilidade a qualquer custo. Para que haja desenvolvimento, será preciso baixar juros e impostos. Mas cabe ao movimento sindical pressionar pelo crescimento.” O primeiro passo nesse sentido, segundo ele, serão as manifestações convocadas para os dias 29 de novembro e 6 de dezembro, pleiteando o salário mínimo de R$ 420,00 em 2007. “Isso sempre ajuda, até porque o governo tem medo de povo”, provoca.

O ato político foi definido no encontro realizado em São Paulo, no dia 9 último, reunindo seis centrais. Na ocasião, apesar da pauta específica, que além do mínimo incluía a correção da tabela do Imposto de Renda, o desenvolvimento não foi esquecido. “Estaremos cada vez mais unidos e mobilizados, pressionando o governo e o Congresso Nacional em torno dos interesses do conjunto da classe trabalhadora”, afirmou o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique da Silva Santos, em reportagem publicada no Portal Mundo do Trabalho. Ainda de acordo com ele, a luta pelo reajuste do salário mínimo e uma política permanente para sua valorização é um primeiro passo que integra um processo que objetiva o crescimento econômico com geração de emprego e distribuição de renda.

 

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