Sindical Assédio moral, a humilhação em tempos de globalização Rita Casaro |
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Abusos de poder cometidos contra empregados são talvez tão antigos quanto o próprio trabalho. Nada mais comum que a figura do chefe mal-humorado, que desrespeita subordinados e faz exigências descabidas. A novidade, aponta a médica e fiscal do trabalho Cecília Zavariz, está no fato de empresas terem passado a adotar “políticas que são discriminadoras com técnicas de assédio moral”. Tendo organizado o Núcleo de Promoção da Igualdade de Oportunidades e de Combate à Discriminação da DRT (Delegacia Regional do Trabalho) de São Paulo, que coordenou até 2003, Zavariz teve oportunidade de acompanhar inúmeros casos de assédio moral, alguns sutis, de difícil demonstração; outros explícitos, como o caso denunciado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas em relação à Ferroban (leia mais no quadro Terror no trabalho). Em entrevista ao Jornal do Engenheiro, a médica falou sobre os males desse abuso, que se torna mais sofisticado no capitalismo contemporâneo e cujos efeitos extrapolam o ambiente de trabalho.
O parecer elaborado pela senhora sobre o assédio moral sofrido pelos empregados da Ferroban demonstra uma situação inimaginável. Como foi o caso?
Mas nem sempre o assédio moral é tão explícito...
No Brasil, há leis específicas sobre assédio moral desde 2000. O problema é novo?
Essa competição exacerbada e o individualismo ficam restritos ao trabalho?
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Terror no trabalho | |
Em fevereiro de 2002, determinada a dispensar mais de mil funcionários – além dos que já haviam sido cortados desde 1999, quando houve a privatização da antiga Fepasa –, a Ferroban impôs a esse contingente licença remunerada e impediu seu acesso às dependências da companhia. O objetivo da empresa, conforme o parecer técnico elaborado pela fiscal do trabalho Cecília Zavariz, era convencer esses empregados a aceitarem a demissão sem receber o valor integral da indenização prevista na cláusula 4.49, presente em seus contratos de trabalho, que poderia chegar a 50 salários. Sem pleno sucesso, a partir de maio, passou a comunicar o desligamento sem a quitação das verbas rescisórias devidas. Por decisão da Procuradoria do Trabalho, a Ferroban foi obrigada a anular tais demissões até que concordasse em cumprir a obrigação contratual. Na longa queda-de-braço para forçar os empregados a saírem voluntariamente, a companhia fez com que esses experimentassem o legítimo pão que o diabo amassou. Sem função ou atividades na empresa, que se transferiu para novas instalações, esses permaneceram por vários dias na sede antiga, cujo estado de conservação era precário. Sem móveis, utilizavam cestas de lixo para se sentar e não dispunham de água para beber ou papel higiênico nos banheiros. Outra medida foi a transferência coercitiva de uma cidade a outra. Um grupo de cerca de 60 pessoas alocadas na Estação Ferroviária de Campinas foi confinado numa sala apelidada de “aquário”, já que ficavam, sem atividade, sob observação de quem passava através de uma janela de vidro. Situados ao lado do depósito de lixo da empresa, foram apelidados de “peixes mortos” ou “podres”. Outro grupo ficou lotado em um armazém isolado, que passou a ser chamado de “pavilhão 9”, em referência à famosa área em que houve um massacre de detentos no Complexo do Carandiru. |
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Identifique o abuso e reaja | |
O site “Assédio moral no trabalho. Chega de humilhação!” (www.assediomoral.org), criado, entre outros profissionais, pela médica Margarida Barreto, autora da tese sobre o assunto “Uma jornada de humilhações”, traz informações sobre o problema e orientação de como identificar o abuso e lutar contra ele. Em São Paulo, as denúncias podem ser feitas ao Núcleo de Promoção da Igualdade de Oportunidades e de Combate à Discriminação da DRT, que fica na Rua Martins Fontes, 109, 9º andar, na Capital. O telefone é (11) 3150-8054 ou 3150-8069. |
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