Cresce Brasil

PAC depende de nova política econômica

Soraya Misleh

 

Anunciado em 22 de janeiro e composto por sete medidas provisórias e cinco projetos de lei a serem votados pelo Congresso, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) pode fazer o País avançar. Mas disso depende uma reorientação na política macroeconômica. Essa é a opinião de especialistas como Carlos Lessa, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), ele vê com bons olhos a iniciativa do governo Lula de definir um plano de investimento em infra-estrutura para o quadriênio 2007-2010, de modo que a Nação cresça 5% ao ano, e apresentá-lo como um compromisso público de gestão. “Se for executado, será um salto à frente. Não há muito a discutir quanto aos projetos ali relacionados, são prioritários há muito tempo e coincidem com a proposta do movimento dos engenheiros. O único problema é não terem sido começados ainda.”

Para ele, contudo, a que seja levado adiante, “é absolutamente fundamental dar prioridade ao PAC em relação ao gasto financeiro do setor público”. E na análise de Lessa, o governo não dá mostras de que vai manter redução significativa da taxa de juros real. A visão é compartilhada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o qual, em nota técnica, lembra que “a última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), que definiu a diminuição da taxa de juros em apenas 0,25%, representou uma sinalização restritiva ao PAC, já no seu início”. O professor da UFRJ complementa: “O pensamento neoliberal está todo mobilizado para atacar a Previdência Social, atacar o gasto público não-financeiro. Acho que tem uma batalha pela frente, que é a seguinte: para o PAC ser implementado, exige uma política monetária, financeira e cambial radicalmente diferente da que vem sendo feita.”

O programa e o Cresce Brasil
No plano proposto, estão previstos investimentos de R$ 503,9 bilhões ao longo deste segundo mandato de Lula. A maior parte será destinada ao setor energético (R$ 274,8 bilhões), sendo R$ 179 bi ao segmento de petróleo e gás natural. Na geração, devem ser gastos R$ 65,9 bilhões de 2007 a 2010, para alcançar 12.386MW ao final desse período. E à transmissão, R$ 12,5 bi, para 13.826km de linhas. O restante caberá a soluções renováveis. Projetos de hidroelétricas, PCHs (pequenas centrais hidroelétricas) e termoelétricas serão contemplados.
Coordenador técnico dos trabalhos do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – que inclui as propostas da engenharia nacional ao desenvolvimento com inclusão social –, o consultor Carlos Monte traça paralelos entre o PAC e o programa lançado pela Federação Nacional dos Engenheiros em setembro de 2006. Apresentado aos então candidatos a Presidente da República e governadores antes das eleições, esse último foi desenhado pensando-se num crescimento econômico anual um pouco superior, de 6%. Não obstante o PAC seja visto como satisfatório por Monte, ele lembra que algumas propostas dos engenheiros não foram abrangidas. No setor energético, por exemplo, o programa nuclear não foi incluído. “Cortou-se Angra 3 e não há expectativa de Angra 4. Também não há nenhuma referência à co-geração e biomassa da cana. Quase não se contemplou a produção de renováveis.”
Conforme sua avaliação, as áreas de habitação e saneamento, que aparecem como segunda e terceira maiores beneficiadas no PAC – a elas serão destinados, respectivamente, R$ 103,6 bilhões e R$ 40 bilhões até 2010 –, estão bem colocadas no programa, com projeções de investimentos que vão ao encontro do que aponta o “Cresce Brasil”. Além disso, no setor de saneamento, enfatiza ele, é positiva a aprovação do marco regulatório. O segmento de transportes terá R$ 58,3 bilhões, a maioria investimento público em rodovias. Embora concorde que a prioridade foi dada a esse modal, em detrimento por exemplo da ferrovia, o consultor lembra que boa parte das estradas indicadas pelos engenheiros como importantes está contemplada no PAC. “Abrem caminho para ramais integradores.” No que concerne aos transportes urbanos, ele considera interessante a previsão de prolongamentos de trechos metroviários em cidades como Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Salvador, ao que deverão ser aplicados R$ 3,1 bilhões. Investir em sistemas de alta capacidade consta como prioritário no “Cresce Brasil”.
A crítica vai para a ausência da área de telecomunicações no PAC. “O governo devia colocar não apenas o programa ‘Luz para todos’, mas também o ‘Informática para todos’.” E mesmo o investimento na tecnologia de TV digital consta “timidamente”. O projeto apresentado pelos engenheiros salienta que essa “pode representar a expansão, no Brasil, de toda uma cadeia produtiva de equipamentos, componentes e conteúdos”.
Apesar dos necessários aprimoramentos, o consultor acredita que o programa lançado pelo governo se constitui em fator importante de distribuição de renda. Sem contar que, com o PAC, “o Estado está retomando o planejamento”. Falta, todavia, maior clareza quanto ao papel dos organismos ambientais. Lessa concorda: “É preciso que removam os obstáculos brutais colocados, porque senão a maior parte dos projetos fica comprometida.”

 

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