Mercado

Precisa-se de engenheiros

Lourdes Silva

 

De preferência extremamente qualificados para atuar na área da construção civil. A informação é de José Romeu Ferraz Neto, vice-presidente do Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado de São Paulo) e diretor da RFM Construtora Ltda. Segundo ele, o aquecimento da produção no setor, graças às obras habitacionais e de infra-estrutura, já causou a escassez de profissionais e despertou a preocupação das empresas quanto à formação desses.

“Como demora formar engenheiros e houve redução no número de graduados em civil nos últimos 20 anos, pois o setor estava em baixa, os profissionais migraram para outras áreas e agora farão muita falta”, explica. Na sua avaliação, com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado no dia 22 de janeiro último pelo Governo Federal, prometendo injetar R$ 106,3 bilhões em habitação e outros R$ 40 bilhões em saneamento, a procura por mão-de-obra especializada deve aumentar.

“Profissionais mais qualificados para gerir, ao invés de tocar obras, assumir novos sistemas construtivos e conhecer as normas brasileiras do setor sempre foram escassos”, afirma Maurício Linn Bianchi, coordenador do Comitê de Tecnologia e Qualidade do Sinduscon e diretor técnico da BKO Engenharia. Além disso, completa ele, com a baixa na construção civil, essa perdeu muitos talentos que migraram para o sistema financeiro e outros segmentos. “Resgatá-los é função de todos, a começar pela valorização dessa profissão”, defende. Bianchi alerta para a necessidade de se ter cautela na alocação de profissionais em níveis de decisão e de alta responsabilidade: “Se o mercado não tomar cuidados nessa imensa onda de contratações, daqui a alguns anos estaremos com muitas patologias construtivas, retrocedendo depois de uma década de enorme avanço técnico e tecnológico.”

João Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), lembra que o processo de desqualificação dos profissionais teve início na década de 80, quando o Brasil parou de crescer e deixou de gerar oportunidades de formação de quadros. “À medida que se multiplicam as obras, tem que acontecer o mesmo com as equipes técnicas. Como há um descompasso, acabam faltando recursos humanos preparados para enfrentar o desafio”, conclui.

De acordo com o diretor do Senai de Construção Civil “Orlando Laviero Ferraiuolo”, Carlos Eduardo Cabanas, “a construção civil vem experimentando um avanço em seus processos e produtos e os engenheiros que não acompanham essas inovações têm dificuldades de inserção no mercado”. Segundo ele, as áreas de projeto e execução para obras de infra-estrutura médias e grandes são as que mais carecem de tais profissionais e requerem muito estudo e vivência desses. Diante do previsível aquecimento do setor graças aos investimentos anunciados pelo PAC, avalia ele, a saída serão programas de requalificação dos engenheiros disponíveis e dos que pretendem retornar às atividades na área. Cabanas sugere ainda que sejam melhorados e atualizados os currículos das universidades em sintonia com a realidade da cadeia produtiva da construção civil.

Para garantir que aqueles que se formarem estarão aptos a suprir as necessidades do mercado, o Sinduscon firmou um convênio com a Universidade Mackenzie para incluir, nos cursos da Escola de Engenharia, matérias ou módulos específicos que propiciem aos estudantes condições de enfrentar a realidade da atividade. “Estão saindo de uma faculdade muito técnica, despreparados e sem muita noção de planejamento de produção e do lado financeiro da obra, que atualmente são primordiais nas empresas”, conclui Ferraz Neto.

 

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