Editorial

Mais uma oportunidade para o etanol

 

Finalmente, o álcool começa a receber a atenção que merece do Governo. A visita de George W. Bush a São Paulo e a assinatura de um protocolo de intenções sobre a entrada do etanol brasileiro no mercado estadunidense, o maior do mundo, foram passos importantes para alavancar a produção e exportação do combustível. Ainda que por ora tudo não passe de boas intenções anunciadas – as barreiras à importação não serão imediatamente suspensas e não há grandes investimentos previstos –, é a primeira vez que o assunto é tratado com a devida relevância.

Estimulada pelas dificuldades domésticas do presidente estadunidense, que perdeu o controle do Congresso e enfrenta desaprovação da opinião pública dentro e fora de seu país, a viagem pela América Latina pode servir de fato aos bons propósitos anunciados: buscar alternativas energéticas menos agressivas ao planeta e favorecer o desenvolvimento do continente.

Nesse sentido, está mais que na hora de o Brasil aproveitar para valer o potencial e know-how de que dispõe na área de biocombustíveis, seja o etanol, estrela do momento, ou o biodiesel. De acordo com o manifesto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – lançado pela FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) –, o País pode substituir pelo menos 5% de todo o consumo mundial de gasolina pelo álcool brasileiro. Obviamente, o combustível também pode ter seu uso ampliado internamente, reduzindo a poluição nas ruas brasileiras e poupando nossas reservas não-renováveis de petróleo, que continuará sendo um recurso estratégico e cobiçado ainda por muito tempo. Isso sem falar nas inúmeras possibilidades oferecidas pela álcoolquímica, que pode substituir diversos produtos derivados de petróleo.

Fundamental também nos lembrarmos que, se o objetivo é salvar o planeta, todas as variáveis precisam ser levadas em consideração com seriedade. A longo prazo, não interessa ao Brasil ter sua biodiversidade destruída e ver seu território cultivável transformado em uma enorme plantação de cana-de-açúcar. Os alertas sobre esse ponto também precisam ser considerados na equação; sem paixões, com racionalidade.

Estamos, assim, diante de mais uma oportunidade para o Brasil buscar seu crescimento e sua inserção no mercado global. Nesse tabuleiro, em que lamentavelmente os jogadores não disputam em condições de igualdade, é essencial que o País esteja atento para negociar de forma a fazer valer suas vantagens estratégicas. A vinda de Bush ao País foi comemorada como uma demonstração de reconhecimento da nossa importância. É preciso que nossos representantes tenham isso em mente o tempo todo. E ainda mais que se lembrem que têm a missão de defender os interesses do povo brasileiro, que já há séculos trabalha na esperança de um dia ver o Brasil no lugar a que pertence, entre as nações justas e soberanas.

 

A lamentar
Como apontado acima, é corretíssimo o esforço brasileiro para colocar o etanol no mercado dos Estados Unidos, recebendo seu presidente. A oportunidade anunciada para o produto nacional, no entanto, não apaga a história recente ou o que George W. Bush tem significado para o mundo: guerra, imperialismo e desrespeito aos direitos humanos. Natural portanto que, enquanto passasse por aqui, fosse alvo de protestos organizados pelos movimentos sociais, como ocorre em qualquer parte do globo. Assim, é lamentável a violência excessiva da polícia paulista, usada para reprimir os manifestantes que resolveram ocupar mais uma pista da Avenida Paulista, na Capital, onde se realizou uma marcha em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. A consolidação de nossa democracia passa também pelo respeito das forças de segurança aos cidadãos, que têm o direito de expressar sua opinião e não podem ser agredidos por atrapalhar o trânsito – especialmente quando a movimentação de Bush pela cidade causou enormes transtornos ao paulistano.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

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