Giro paulista

Indústria calçadista de Franca procura novos mercados

Rita Casaro

 

Enfrentando três fatores incrivelmente adversos às exportações – juros altos, dólar baixo e a imbatível concorrência chinesa –, as empresas de Franca buscam alternativas para superar as dificuldades do último ano. “Por um questão de sobrevivência, voltam-se ao mercado interno”, explica o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca, Jorge Donadelli.

Com 760 fábricas e uma capacidade instalada de 37,2 milhões de pares ao ano, o setor reduziu a produção em 2006 e, pior, fechou o período com cerca de 2 mil empregados a menos que em 2005. O câmbio desfavorável também acirra a disputa pelos clientes brasileiros. “Em 2006, o mercado nacional cresceu 5%, mas nós vendemos 3,3% a menos, o que demonstra a entrada de sapatos importados, especialmente da China, por conta desse dólar, como eu diria, destrambelhado”, critica o empresário.

Sem grandes esperanças de mudanças na política macroeconômica, conta Donadelli, a indústria calçadista está investindo na abertura de novos mercados: “A meta é agregar valor ao nosso produto e conquistar outros clientes, inclusive na China, onde há 200 milhões de ricos interessados em sapatos mais sofisticados. É um mercado muito maior que o dos Estados Unidos.” Nesse caminho, o calçado de Franca já conseguiu um feito importante: a recuperação do valor em dólar, que subiu de US$ 16 o par, há quatro anos, para os atuais US$ 21,53.

Nessa aposta na qualidade, Donadelli quer o produto de Franca substituindo os famosos sapatos italianos, tendo em vista que o país europeu vem se retirando dessa área. “Eles têm outras atividades e perderam interesse nessa indústria, que é tipicamente de nações subdesenvolvidas. Nosso produto se equipara ao italiano e já estamos vendendo para toda a América Latina e para a Europa”, relata. Contudo, sem a fama daqueles made in Italy, o sapato nacional precisa ser vendido nos Estados Unidos, por exemplo, a preços pelo menos US$ 7 mais baratos. “Superar isso é uma questão de marketing, o que não se enfia na cabeça do consumidor de uma hora para outra”, pondera Donadelli. Outro esforço é substituir o enorme mercado estadunidense pela diversidade. “Estamos vendendo para cerca de 75 países, no passado era basicamente para os EUA.”

Com essa disposição de inserir o produto de Franca no mercado mundial sob o carimbo da qualidade, Donadelli acredita que a indústria pode se recuperar em um ou dois anos. Para tanto, o setor, que é responsável por 59% do PIB do município e 17% dos empregos locais, deve contar também com a ajuda da Prefeitura. De acordo com o secretário de Governo, Odair Tristão, um seminário previsto para maio próximo fará um diagnóstico da situação e proporá ações concretas, envolvendo os governos municipal, estadual e federal e os vários segmentos dessa cadeia produtiva.

“Está havendo uma guinada muito grande, a indústria está se pulverizando em micro e pequenas empresas que se voltam ao mercado interno, o que gera não só empregos, mas arrecadação local”, analisa Tristão. Assim, afirma ele, o objetivo é incentivar especialmente os pequenos para que possam aumentar a produção e ganhar em escala.

 

 

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