Opinião

Duas verdades inconvenientes: crises da água e energia

Sérgio Mascarenhas

 

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, está abalando a consciência mundial com magnífica campanha de alerta quanto aos perigos que a humanidade está correndo com a destruição do meio ambiente. Publicou livro e filme intitulados “Uma verdade inconveniente”, mostrando o desastre causado pelo mundo desenvolvido e rico e seus valores imediatistas, sem qualquer respeito ao futuro e à natureza, desde que o lucro encha (ou inche?) os cofres do deus mercado.

Enquanto isso, o mundo pobre e subdesenvolvido é colonizado e explorado pelos ricos, exportadores de matérias-primas, através da destruição de suas riquezas naturais com mão-de-obra barata e ignorante. Esse é o cenário de milhares de anos no passado e incrivelmente ainda atual no século XXI!

Com os desastres naturais como o furacão Katrina, o buraco do ozônio, secas ou inundações avassaladoras, a verdade inconveniente mostra seu espectro terrível: o próprio homem é o principal causador desse verdadeiro suicídio ambiental! Até pouco tempo, muitos grupos de estudiosos não estavam convencidos de que mudanças climáticas globais, desertificação, secas e enchentes fossem de origem antrópica (isto é, causadas pelo homem), mas recente relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) mostrou que, até o fim do século, o nível do mar poderá subir até três graus centígrados na temperatura média global, derretendo geleiras polares e causando destruição em cidades costeiras, como Nova York e Rio de Janeiro, e até fazendo desaparecer pequenos países insulares, tanto no Pacífico como no Atlântico.

Essa é a verdade inconveniente mencionada por Al Gore. Vejo, entretanto, que há ainda duas outras a serem ressaltadas nesse trágico cenário, que dizem respeito à água e energia e seu uso sem critérios de conservação, à queima de florestas e plantações, poluição de aqüíferos, uso de combustíveis fósseis para a massa enorme de carros, caminhões, aviões, navios.É uma política absolutamente desvairada de gestão e uso desses dois recursos. E isso tanto na produção industrial, no agronegócio e nos serviços em geral requeridos por megacidades e pela globalização econômico-financeira (mais financeira que econômica). Entretanto em meio a esse caos, vejo algumas esperanças vindas dessa própria ciência e tecnologia tão abastardada pelas guerras, violências e injustiças sociais. No caso da água, já podemos pensar e realizar dessalinização da água do mar de maneira não-finita pela chamada osmose-reversa, um fenômeno conhecido há mais de 150 anos e pelo uso de vários tipos de energia renováveis como solar, eólica e, é claro, também de gás e petróleo.


Sérgio Mascarenhas
Coordenador do IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP de São Carlos e membro do Conselho Tecnológico do SEESP

 

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