Detentora
do maior índice de mecanização do corte da cana-de-açúcar
do Estado, a região de Ribeirão Preto ainda precisa resolver
questões como a situação dos migrantes que atuam
na lavoura e as queimadas antes da colheita, que provocam danos ao meio
ambiente e à saúde da população. Conforme
a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), do total de cana-de-açúcar
que está sendo esmagada no Brasil pelo setor sucroalcooleiro –
468,15 milhões de toneladas –, São Paulo é
responsável por quase 60%.
Desse montante, afirma Sérgio Prado, responsável pelo Escritório
Regional da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar)
em Ribeirão Preto, 1/3 é produzido pelas cerca de 50 usinas
situadas na região. Em algumas delas, diz ele, o índice
de mecanização é de “quase 90%”. Segundo
o engenheiro Marco Antonio Sanchez Artuzo, gerente da Agência Ambiental
de Ribeirão Preto da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental), na média, o percentual na região é de
35% do total da cana processada. Ou o dobro, se se levar em conta somente
a cultivada em áreas consideradas mecanizáveis, conforme
a legislação estadual (Decreto 47.700/03). Segundo estabelece
a norma, tais referem-se às “plantações em
terrenos acima de 150 hectares, com declividade igual ou inferior a 12%,
em solos com estruturas que permitam a adoção de técnicas
usuais de mecanização da atividade de corte de cana”.
Nessas áreas, a lei determina a eliminação das queimadas
de forma gradativa até 2021 e nas demais, até 2031. Mas
pacto entre o setor e o Governo pode antecipar os prazos, para 2014 e
2017.
De acordo com Prado, além do ganho ambiental, com a adoção
da tecnologia, tem-se produtividade maior e qualidade melhor do material
que vai para a indústria. E, entre outros benefícios, mantém-se
o solo mais úmido e rico em matéria orgânica, uma
vez que a palha – que viraria fumaça – servirá
de adubo.
Para o engenheiro agrônomo Manoel Eduardo Tavares Ferreira, presidente
da Associação Cultural e Ecológica Pau-Brasil, entretanto,
dada a flexibilidade nos prazos, mesmo com o elevado índice de
mecanização, o processo de queima antes da colheita não
foi interrompido em Ribeirão Preto e cidades vizinhas. Isso porque,
de acordo com sua estimativa, o rendimento na máquina chega a duplicar
quando se utiliza a cana queimada. Contribui para esse cenário,
na sua ótica, o frágil controle das queimadas pelo órgão
estadual responsável. Artuzo, da Cetesb, garante, contudo, que
é feita fiscalização de rotina.
Na visão de Cleber Morais, consultor agronômico da CanaOeste
(Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de
São Paulo), alguns fatores poderiam contribuir para reduzir a queima.
“O principal seria a remuneração da cana não
só pelos açúcares totais recuperáveis nela
contidos, mas também pelo seu alto teor de fibra, que se transforma
em bagaço, o qual gera energia.”
Exclusão
social
O investimento, segundo o representante da Unica em Ribeirão Preto,
é elevado – cerca de R$ 800 mil em uma única máquina.
Na concepção de Farid Eid, professor associado I do Departamento
da Engenharia da Produção da UFSCar (Universidade Federal
de São Carlos), conseqüentemente, a tendência é
de aumento da concentração da terra, “na medida em
que o pequeno e o médio não conseguem tornar viável
a mecanização”.
Além da formação de oligopólios, como destaca
ele, “estudos mostram que uma máquina em média elimina
80 postos de trabalho”. Conforme ele, com o desemprego aumentando
e maior controle sobre o trabalho pelos grandes grupos econômicos
sucroalcooleiros, ampliaram-se as exigências ao trabalhador, que,
na localidade, chega a cortar em média dez toneladas por dia. O
resultado tem sido a morte “por exaustão”.
Silvio Donizetti Palviqueres, presidente do Sindicato dos Empregados Rurais
de Ribeirão Preto, constata que a indústria tem absorvido
apenas em torno de 10% dessa mão-de-obra após a mecanização
– na região são aproximadamente 45 mil cortadores
de cana. “O restante está indo para a periferia da cidade
e passa a fazer bicos.” Obstáculo a que esse pessoal, a maioria
migrante das regiões Norte e Nordeste, seja inserido em outras
atividades é sua baixa escolaridade. “Noventa por cento não
têm segundo grau e essa é uma barreira para disputarem uma
vaga na área urbana.”
Segundo admite Marcelo Pelegrini, secretário da Indústria,
Comércio, Abastecimento, Emprego e Agricultura de Sertãozinho,
o excedente de mão-de-obra é o grande gargalo para muitos
municípios, com a mecanização. Todavia, ele garante
que sua cidade – principal produtora da localidade – tem conseguido
absorver esse contingente na indústria metalmecânica –
a qual vem registrando excelentes resultados, ao fabricar a unidade processadora
de cana e equipamentos para todo o Brasil e América Latina.
|