É bastante sabido hoje que o ambiente internacional
se encontra favorável às exportações brasileiras
de commodities, das quais dependemos para superar restrições
externas à aceleração do crescimento. Fato menos
conhecido é que boa parte desse sucesso recente se deve à
progressiva inserção dos países asiáticos,
cujo motor tem sido impulsionado por mercadorias que carregam custos salariais
imbatíveis e conteúdo tecnológico crescente.
Esse último aspecto faz da inovação estratégia
defensiva para o capital privado enfrentar o momento de reversão
no ciclo que se oculta nos meandros do devir da história. Da mesma
maneira, torna imperativo o fomento público, muitas vezes na contramão
dos mercados, de “apostas tecnológicas” que permitam
crescimento em cenário de progressivo acirramento da intensidade
da concorrência internacional.
O planejamento público se oferece como instrumento de coordenação
das ações públicas e privadas com objetivos simultâneos
de redução de riscos e de aceleração da acumulação
para a sociedade brasileira. Contudo, dois perigos parecem cercar o processo.
O primeiro, de se procurar atender à multiplicidade de interesses
legitimamente representados, sem que se consiga alcançar o desprendimento
próprio ao enlevo da tarefa que se coloca: superar a condição
de subdesenvolvimento da população brasileira. Um plano
que resultasse em compromisso de atendimento de múltiplas necessidades
imediatas por recursos subsidiados, por exemplo, poderia se revelar de
pouco fôlego, ainda que apresentasse alguns resultados de curto
prazo.
O segundo perigo, não menor e não menos importante, seria
a substituição do processo de planejamento pelo de teorização,
transformando-se o plano em um objeto de ficção. Assim,
por exemplo ocorreria se fosse assumido que o Estado pode influenciar
decisivamente as estratégias empresariais, ainda que mediante a
ampliação de crédito subsidiado.
Esses são os aspectos-chave que parecem desafiar o processo de
planejamento apenas iniciado no âmbito do Ministério da Ciência
e da Tecnologia com vistas à publicação, em princípio
de julho, de um plano para aceleração da inovação
no Brasil. A despeito do tamanho do desafio apontado, renovamos a aposta
na liderança e na experiência do ministro Sérgio Rezende
como legítimo representante dos anseios dos engenheiros que sonham
com um Brasil mais justo e mais próspero.
Marco
Aurélio Cabral Pinto é professor adjunto do Departamento
de Engenharia de Produção da UFF (Universidade Federal Fluminense)e
autor da nota técnica sobre C&T do projeto “Cresce Brasil
+ Engenharia + Desenvolvimento”
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