Opinião

O imperativo da inovação e os desafios do planejamento

Marco Aurélio Cabral Pinto

 

É bastante sabido hoje que o ambiente internacional se encontra favorável às exportações brasileiras de commodities, das quais dependemos para superar restrições externas à aceleração do crescimento. Fato menos conhecido é que boa parte desse sucesso recente se deve à progressiva inserção dos países asiáticos, cujo motor tem sido impulsionado por mercadorias que carregam custos salariais imbatíveis e conteúdo tecnológico crescente.
Esse último aspecto faz da inovação estratégia defensiva para o capital privado enfrentar o momento de reversão no ciclo que se oculta nos meandros do devir da história. Da mesma maneira, torna imperativo o fomento público, muitas vezes na contramão dos mercados, de “apostas tecnológicas” que permitam crescimento em cenário de progressivo acirramento da intensidade da concorrência internacional.
O planejamento público se oferece como instrumento de coordenação das ações públicas e privadas com objetivos simultâneos de redução de riscos e de aceleração da acumulação para a sociedade brasileira. Contudo, dois perigos parecem cercar o processo. O primeiro, de se procurar atender à multiplicidade de interesses legitimamente representados, sem que se consiga alcançar o desprendimento próprio ao enlevo da tarefa que se coloca: superar a condição de subdesenvolvimento da população brasileira. Um plano que resultasse em compromisso de atendimento de múltiplas necessidades imediatas por recursos subsidiados, por exemplo, poderia se revelar de pouco fôlego, ainda que apresentasse alguns resultados de curto prazo.
O segundo perigo, não menor e não menos importante, seria a substituição do processo de planejamento pelo de teorização, transformando-se o plano em um objeto de ficção. Assim, por exemplo ocorreria se fosse assumido que o Estado pode influenciar decisivamente as estratégias empresariais, ainda que mediante a ampliação de crédito subsidiado.
Esses são os aspectos-chave que parecem desafiar o processo de planejamento apenas iniciado no âmbito do Ministério da Ciência e da Tecnologia com vistas à publicação, em princípio de julho, de um plano para aceleração da inovação no Brasil. A despeito do tamanho do desafio apontado, renovamos a aposta na liderança e na experiência do ministro Sérgio Rezende como legítimo representante dos anseios dos engenheiros que sonham com um Brasil mais justo e mais próspero.

Marco Aurélio Cabral Pinto é professor adjunto do Departamento de Engenharia de Produção da UFF (Universidade Federal Fluminense)e autor da nota técnica sobre C&T do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”

 

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