Sem
condições de competir em quantidade com os grandes produtores
do Sul do País – o Estado do Rio Grande é responsável
por quase 50% do total nacional de cerca de 10 milhões de toneladas
–, a cidade de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, decidiu
apostar em requinte e cultivar o arroz preto.
Ainda pouco conhecida no Brasil, mas cada vez mais bem-sucedida entre
gourmets e chefs de cozinha, que agora não precisam mais importá-la,
a iguaria é vendida a R$ 28,00 o quilo ao consumidor final. Para
o produtor, que consegue três toneladas por hectare em 100 dias
de cultivo, a receita é de R$ 10,00 por quilo.
O maior valor agregado da variedade desenvolvida pelo IAC (Instituto Agronômico
de Campinas), o IAC 600, foi o que convenceu o agricultor José
Francisco Ruzene a aceitar o desafio de mudar de cultura e investir no
mercado mais sofisticado. “No início, eu nem acreditava.
Pensava que deveríamos achar uma variedade de alta produtividade
e não uma exótica, mas hoje, no comércio, para sobreviver
é preciso ter alguma coisa diferente. Além disso, a política
do Governo tem o objetivo de fazer o povo comer barato, arroz branco e
feijão nunca vão ter preço alto”, pondera.
Com isso em mente, ele decidiu aderir ao projeto do IAC que, após
11 anos pesquisando e selecionando a melhor variedade, em termos de sabor,
aroma e nutrientes (veja quadro abaixo), precisava de alguém que
fizesse a experiência em escala comercial. “Eu comprei a semente
e fiz uma área de 1 ½ hectare. Levei amostras para especialistas
em gastronomia, que me disseram que havia futuro para o produto, à
época importado a R$ 50,00 o quilo. Então, decidi plantar”,
conta Ruzene. Após essa experiência, em 2005, ele saltou
para 30 hectares e já colheu, em 2007, a terceira safra, de 60
hectares, somando 70 toneladas.
Embora satisfeito, Ruzene diz que o grande desafio ainda é abrir
o mercado para a novidade: “Produzir é fácil: você
tem a semente, a terra e o adubo; cuida, ele nasce cresce, você
colhe. Mas, e para fazer o pessoal comer?” Dessa forma, ele saiu
em busca de pontos de venda nesse nicho mais sofisticado, em São
Paulo e no Rio de Janeiro. “Assim, eu, um produtor, saí da
fazenda para achar os gourmets da vida, eu que nem sabia o que era essa
palavra.” Apesar dos percalços iniciais, na sua avaliação,
o esforço tem valido a pena e a procura vem crescendo, embora lentamente.
Por isso mesmo, Ruzene pretende também apostar em outras alternativas
de arroz gastronomicamente atraentes. “Você começa
a conhecer esses grandes chefs e percebe que há saída pra
essas mercadorias especiais porque eles utilizam as importadas e a idéia
de “o que vem de fora é bom” está caindo de
moda, portanto há espaço para o produto brasileiro, que
pode ser melhor, como no caso do arroz preto”. Na opinião
do agricultor, a economia local também saiu ganhando com a sua
opção pela nova cultura, devido aos cerca de dez novos empregos
criados em função dela. “Para lidar com essa lavoura,
tive que colocar mais gente, estou plantando, beneficiando e comercializando”,
afirma.
O
IAC 600
O arroz produzido em Pindamonhangaba, a cultivar IAC 600, originou-se
de seleção realizada em 1994, em uma população
da variedade chinesa Wang Xue Ren. Daí, originaram-se aproximadamente
150 linhagens com diferentes tipos de grãos, panículas e
porte de planta, até que se chegou àquela que apresentou
boa estabilidade agronômica e potencial produtivo adequado ao padrão
de tipos especiais, adaptando-se aos sistemas de plantio irrigado e terras
altas com irrigação suplementar.
O arroz preto possui aroma e sabor acastanhado, grãos muito macios
após o cozimento, com excelentes qualidades nutricionais, se comparado
aos tipos tradicionais. A saber:
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