PRODUTIVIDADE


Selo de qualidade sindical

Novas análises de dados econômicos demonstram que a sindicalização pode melhorar resultados da empresa.

* Paul Wallich

Depois de aproximadamente um século de guerra na administração das empresas contra os sindicatos nos Estados Unidos, uma série de pesquisas nacionais demonstra, surpreendentemente, que as empresas onde atuam sindicatos dominam o ranking das mais produtivas do país. De fato, de acordo com Lisa M. Lynch, da Universidade de Tufts, e Sandra E. Black, do Banco Central de Nova York, o darwinismo econômico (a sobrevivência das melhores empresas depois de gerações de duros homens de negócios) pode estar fazendo o que legiões de organizadores não foram capazes: pôr fim aos patrões autocráticos e locais de trabalho excessivamente regulamentados.

A indústria americana tem tentado reinventar-se por mais de 20 anos. Os gurus da administração têm proclamado as teorias x, y e z, para não mencionar os círculos de Qualidade, Qualidade Total e Administração de Elevada Produção. Somente nos últimos anos, entretanto, sólidos dados tornaram-se disponíveis e possibilitaram avaliar quais teorias funcionam e quais não. As empresas nem sempre respondem às pesquisas, e tentativas anteriores para levantar dados têm obtido índices de resposta inferiores a 6%, tornando os resultados não-representativos. Esse não é o caso da Pesquisa de Qualidade Educacional da Força de Trabalho do Empregador Nacional, do censo dos Estados Unidos, iniciada em 1994, representativa de mais de 1.500 locais de trabalho.

Lynch e Black correlacionaram os dados da pesquisa com outras estatísticas que detalham a produtividade de cada negócio na amostra. Elas tomaram como estabelecimento "tipo" uma companhia onde os empregados não são sindicalizados, com participação nos lucros limitada e sem procedimentos de qualidade total e outros métodos formais de gestão de qualidade. (Firmas onde os empregados são sindicalizados constituem cerca de 20% da amostra, consistentemente com o universo americano.)

A média do nível de produtividade das empresas cujos trabalhadores são sindicalizados é 16% superior ao da "tipo", enquanto as companhias onde os empregados não são sindicalizados apresentaram um nível médio 11% inferior. Uma razão: a maioria dos sindicatos adotou programas formais de qualidade, nos quais até 50% dos trabalhadores fazem reuniões regulares para discutir temas relacionados com o trabalho. Além disso, funcionários da produção nesses estabelecimentos participam nos lucros e mais de 25% atuam em equipes autogeridas. As produtividades nessas companhias foram 20% superiores às das "tipo". A pequena minoria de empresas com trabalhadores sindicalizados, mas ainda aplicando a linha do confronto, registrou produtividade 15% inferior à da "tipo", o que é pior, inclusive, que a média das empresas com trabalhadores não-sindicalizados.

Seriam os ganhos de produtividade resultado da aplicação de técnicas gerenciais sofisticadas, ao invés de possuírem trabalhadores sindicalizados? Não, dizem Lynch e Black. A adoção dos mesmos métodos em estabelecimentos com trabalhadores não-sindicalizados apresentou um incremento de produtividade de apenas 10% em relação à empresa "tipo". Segundo Lynch, os ganhos dobrados expostos pelas empresas com sindicalizados podem resultar do maior interesse que esses têm pelo seu local de trabalho: eles podem aceitar ou mesmo propor grandes mudanças nas práticas do trabalho sem se preocuparem com a perda do emprego ao fazer isso (Lynch relata a história oposta de uma companhia com tecnologia de ponta que pagou a seus empregados de limpeza um pequeno bônus para sugerirem medidas simples para acelerar a limpeza noturna do escritório e depois demitiu um terço deles).

Mesmo que um sindicato não possa garantir estabilidade no emprego, ela diz, capacita os trabalhadores a negociarem em condições de relativa igualdade. Especialmente nas fábricas, ressalta Lynch, as empresas com sindicalizados demonstram tendência para uma menor rotatividade da mão-de-obra. Conseqüentemente, elas também colhem mais benefícios com os treinamentos específicos.

Esses ganhos de produtividade documentados chamam a atenção para um novo aspecto no declínio da porcentagem de trabalhadores sindicalizados nos Estados Unidos. Estariam os patrões atuando contra seus próprios interesses quando bloqueiam a sindicalização de seus empregados?

Lynch acredita que uma pesquisa complementar, cuja análise inicial está sendo elaborada, pode ajudar a responder essa e outras questões. Os economistas serão capazes de averiguar como várias das empresas anteriormente amostradas, que têm administração tradicional de relações de trabalho, fizeram para se manter e em que medida a mania de "reengenharia" dos últimos anos tem atrapalhado. A maior parte dos esforços sérios de reengenharia — aqueles que não são apenas downsizing com qualquer outro nome — levaram a um maior comprometimento do trabalhador, argumenta Lynch, somente porque o processo requer que se descubra como as pessoas realmente exercem sua atividade. Armadas com esse conhecimento — e com o desejo de cooperar de seus funcionários — as empresas podem ainda ser capazes de reverter a tendência de queda da produtividade.

* Publicado originalmente na Scientific American - Agosto 1998 - "News and Analysis".

Traduzido por João Guilherme Vargas Netto, assessor sindical

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