Vinho garante prazer e saúde
Além de agradável ao paladar, o
vinho faz bem à saúde e deve ser tomado com moderação, mas regularmente,
acompanhando as refeições ou como aperitivo. Quem defende a tese é o enólogo,
ou estudioso do vinho, Ivan Carlos Regina, engenheiro eletrônico de formação,
atualmente na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e há 21 anos no
setor ferroviário. "Nos Estados Unidos, eles já estão trocando a antiga
advertência dos rótulos de que o álcool faz mal à saúde pelo lembrete ‘o
vinho pode ser benéfico à sua saúde, consulte seu médico’", contou
Regina. Segundo ele, tudo começou com o "paradoxo francês", que
consistia no fato de esse povo apresentar baixos índices de morte por enfarto,
apesar de uma dieta extremamente rica em gorduras. "Estudos desenvolvidos
na França e nos Estados Unidos comprovaram que o vinho tinto é benéfico para
o coração." O segredo, contou Regina, está na casca da uva utilizada em
seu processo de fermentação.
E a bebida abençoada por Baco
já tem até dose indicada. "Alguns falam que o ideal para a saúde é meia
garrafa por dia. Para o Brasil, acho demasiado, eu sugiro um terço ou um
quarto." A ponderação de Regina se baseia no baixo consumo nacional, da
ordem de três litros por ano, por habitante. Pequeno, se comparado aos 80
litros de Portugal, 90 da França e 100 da Itália. Um inimigo do vinho no País
é o preço cobrado em restaurantes, que chega a cinco vezes o do supermercado.
Para esse caso, Regina aconselha: "Quando vou comer fora, ligo antes
perguntando se posso levar a minha garrafa. Se não, escolho outro lugar."
Apaixonado por vinho, Regina
dedica-se ao seu estudo já há duas décadas. "Eu jamais gostei de beber
destilados e há 20 anos comecei a me interessar pelo vinho." Algum tempo
depois, há cerca de 15 anos, formaram-se a Sbav (Sociedade Brasileira dos
Amigos do Vinho) e a ABS (Associação Brasileira de Sommeliers) e o
engenheiro envolveu-se com as duas entidades, garantindo um aprendizado que o
autoriza a dar cursos e palestras para leigos ou sommeliers — os
profissionais responsáveis pelo serviço do vinho em restaurantes.
Contudo, ele adverte que não se
ensina a educar o paladar. "Isso é mais um mito elitista. O que nós
fazemos é transmitir a ficha técnica do vinho, usando um palavreado que o
leigo não conhece."
Um mundo de opções
Existem vários tipos de vinhos,
oriundos de diversos países e produtores. Os chamados do velho mundo são
basicamente os do Mediterrâneo, como França, Itália, Portugal, Espanha e um
pouco da Alemanha. Os vinhos do novo mundo são da Austrália, Chile, Estados
Unidos, África do Sul e do Brasil, que começa a produzir com qualidade.
Existem, ainda, as regiões demarcadas, onde diferentes produtores fazem vinhos
com características comuns, mas que podem apresentar qualidade desigual. Nesse
aspecto, para França e Itália, contam mais os produtores; em Portugal, importa
a região.
O que define a qualidade do vinho
é o solo, a localização geográfica, a cepa, ou tipo de uva, e o trabalho do
homem. A combinação desses fatores pode gerar uma bebida que já nasce
custando US$ 2 mil a garrafa. Contudo, adverte Regina, os preços aumentam numa
proporção bem maior que a qualidade. Influencia bastante a eterna lei da
oferta e procura. Devido a ela, os vinhos da região de Bordeaux e Bourgogne,
na França, são os que alcançam os mais altos preços. Para começar, o
enólogo aconselha buscar "uma boa relação de custo-benefício",
presente em alguns brasileiros, nos chilenos, nos portugueses e nos
australianos. Em tempos de moeda desvalorizada, entre os nacionais, Regina
recomenda o Barão de Lantier, em especial o Cabernet Sauvignon, e
os produzidos por algumas vinícolas pequenas, como Miolo e Valduga.
Degustação
A primeira prova do vinho é a
visual. Nessa fase, observa-se cor, transparência ou limpidez e a formação de
arcos e lágrimas ao se girar a bebida no copo — se não deixar vestígios,
há problemas.
A próxima é a fase do nariz, a
mais importante. Existem aproximadamente 500 cheiros diferentes nos vinhos,
passando pelos florais, de frutas, de animais e até os pneumáticos, como
borracha queimada.
Vem então a fase da boca. Depois
de girado, o vinho deve ser provado, aspirando-se um pouco de ar. Cada região
da língua percebe um sabor diferente. Assim, os degustadores bochecham para ter
uma completa percepção, inclusive da acidez. "Há vinhos que são muito
ácidos, mas estão disfarçados com açúcar", ensinou Regina.
Uma boa pista para identificar a qualidade do
vinho é a rolha, que potencializa as suas características. Se estiver partida
ou esfarelada, é muito provável que a bebida esteja ruim.
Para guardar e consumir
Cada vinho tem um ciclo de vida, devendo ser
consumido no seu apogeu. Depois disso, vêm decadência e morte. Outro ponto
importante é a temperatura. Mesmo o vinho tinto deve ser refrescado para
atingir a ideal. Cuidados para se guardar o vinho também são importantes. Na
ausência de uma adega, um local protegido de calor e ruídos já resolve. E,
claro, conservá-lo deitado para que a rolha fique molhada e se expanda,
impedindo a entrada do ar.
Tipos de vinho
|
Temperatura de serviço
em
graus Cº
|
Tempo ideal para consumo em
anos
|
Espumantes
(Nacionais, Cava Espanhola etc) |
7
|
2
|
Champagne |
7
|
5
|
Brancos leves
(Nacionais, Bordeaux, Loire) |
7 |
2 |
Brancos encorpados
(Bourgogne, outres da uva Chardonnay) |
10 |
5 |
Rosados |
14
|
2
|
Tintos ligeiros
(Beaujolais, Bardolino, Valpolicella etc) |
14 |
2 |
Tintos leves
(Cotes du Rhone, Nacionais, Chianti etc) |
16 |
4 |
Tintos médios
(Bordeaux, Bourgogne, Rioja, Chilenos) |
16 |
10 |
Tintos encorpados
(Barolo, Chateneuf du Pape, Brunello de Montalcino, Amarone etc) |
18 |
15 |
Fonte: Ivan Carlos Regina
|