Privatização é pilhagem a patrimônio público
brasileiro
No domínio econômico, uma
ordem natural estabelece-se: o papel do Estado deve ser reduzido ao
mínimo. Esses princípios liberais constituem o ponto de partida para as
privatizações
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O atual processo de
privatização das empresas brasileiras é fruto de um projeto internacional que
já dura mais de uma década. Nos anos 80, o capital estrangeiro, interessado
nas riquezas do Terceiro Mundo, começou a acelerar a implantação de uma
política "moderna" liberal, originada no famoso "Consenso de
Washington".
O terreno na América Latina era
fértil, pois encerrava-se um período marcado pelo avanço do Estado sobre a
economia (1964 – 1985). No Brasil, havia empresas estatais nos setores de
energia, transporte, comunicação, siderurgia, petroquímica, fertilizantes,
papel etc. E o ataque às nossas riquezas começou antes mesmo de 1985. Em
artigo no Executive Intelligence Review – Economics, de 15 de março de
1983, Small e Sonnenblick afirmavam: "As condicionalidades impostas pelo
FMI ao Brasil, por exemplo, incluem a destruição de sua força de trabalho, um
corte de 20% no orçamento das estatais, um corte de US$ 10 bilhões nos
empréstimos governamentais às empresas privadas, uma desvalorização de 23%
na sua moeda e o leilão de companhias estatais e particulares falidas a
investidores estrangeiros".
Essas imposições do FMI ao
Brasil, feitas em 1983, muito se assemelham à "Carta de Intenções",
firmada recentemente. Sobre ela, pondera o economista canadense Michel
Choussudovsky: "Grandes parcelas de economia nacional serão colocadas no
bloco do leilão. O programa de privatização (considerado no Plano Real) será
acelerado: serviços públicos como telecomunicações e energia elétrica
deverão ser vendidos a preço de barganha para o capital estrangeiro. O governo
federal também considerou leis que permitirão a privatização de companhias
municipais de água e esgoto. Entretanto, os modestos resultados financeiros
dessas vendas possibilitarão ao Brasil pagar somente uma fração de suas
obrigações do serviço da dívida".
A política implementada pelo
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e pela CEF (Caixa
Econômica Federal) facilita o processo de privatização –
desnacionalização – de nossas empresas. Essas instituições, que fomentavam
o desenvolvimento, hoje realizam empréstimos com juros baixíssimos para
companhias estrangeiras interessadas na privatização. O modus faciendi
do processo é simples: saneiam-se as empresas estaduais, dividem-se segundo a
possibilidade de lucro, colocam-se à venda somente as auto-suficientes,
avalia-se por um valor inferior para posterior divulgação de ágio. Ao Estado
caberá a gestão das não-lucrativas.
As conseqüências sociais e
econômicas
O efeito mais grave da
privatização é o desemprego. Esse alcançou na Grande São Paulo o índice de
19,9% da PEA (População Economicamente Ativa). No setor energético, os
constantes blecautes no Rio de Janeiro e regionalmente no Brasil (11/3 e 16/5
últimos) apontam para a desorganização total do Sistema Elétrico Brasileiro.
Na telefonia, a empresa espanhola tem gerado a desnacionalização da gestão,
dos projetos e até das obras.
Caso o saneamento venha a ser
privatizado, as conseqüências sociais serão ainda mais graves. O próprio
governo estima que, para cada dólar investido no setor, economiza-se US$ 2,50
na Saúde. Considerando que 80% das doenças são provenientes de veiculação
hídrica, segundo a Organização Mundial da Saúde, e que o lucro contrapõe-se
à qualidade no tratamento das águas, a Saúde Pública do País pode entrar em
colapso, agravada pela escassez de recursos e ausência de políticas
institucionais.
Há que se estancar o programa de
privatizações do governo federal, para que todos possam enxergar as ruas sem
os altos muros ou grades de proteção de prédios e casas, andar sem
guarda-costas ou carros blindados, cumprimentar um vizinho ou, simplesmente,
celebrar um sonho de liberdade e tranqüilidade.
Cid Barbosa Lima
Diretor do Sindicato dos
Engenheiros no Estado de São Paulo
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