"Sou engenheiro e sinto na
pele a falta de um conselho atuante"
Jornal do Engenheiro: Por que
você é candidato à Presidência do Crea-SP?
Esdras Magalhães dos Santos
Filho: O Crea-SP não cumpre o papel para o qual foi criado, o de fiscalizar
principalmente o exercício ilegal da profissão, visando coibir a presença de
leigos no mercado de trabalho, garantindo segurança e qualidade para a
população. Além disso, não dá qualquer retorno aos profissionais, que são
mal-atendidos. O Crea está alheio às transformações que ocorrem nas
relações de produção, especialmente no campo da microeletrônica e
telecomunicações, as quais têm impacto direto no exercício da profissão.
Questões como mercado de trabalho e integração do Mercosul e Alca são
tratadas timidamente, senão absolutamente ausentes da agenda. Precisamos de um
Crea que fiscalize o exercício ilegal da profissão, seja parceiro do seu
desenvolvimento e atue politicamente na defesa dos seus interesses. Por isso,
sou candidato. Sou engenheiro e sinto na pele a falta de um Crea atuante.
JE: Qual o seu programa de
trabalho?
Esdras: O programa está sendo
elaborado por meio de consulta aos profissionais e às entidades associativas.
Com base nos dados que já temos e nas críticas ao Conselho, já alinhavamos um
conjunto de idéias que incluem: fazer o Crea funcionar e cumprir a sua missão
de fiscalizar o exercício ilegal da profissão; intervir na discussão do
trânsito de profissionais no Mercosul e na Alca; fomentar e promover a
reciclagem profissional, bem como a geração de emprego e renda; ampliar a
descentralização e democratização do Crea-SP, dando autonomia às câmaras
especializadas, fortalecendo as inspetorias e implantando os Creas distritais;
aproximar o Crea-SP do cotidiano do profissional; fortalecer as entidades
associativas; possibilitar a aquisição de novas atribuições profissionais;
participar dos debates sobre os rumos do País e das questões ligadas à
engenharia e à tecnologia.
JE: Quais são as críticas dos
profissionais ao Crea?
Esdras: Que o Crea não funciona, não fiscaliza o exercício profissional, é
burocrático e cartorial, só pensa em arrecadar, atende mal, é centralizador,
não dá qualquer retorno a eles ou à sociedade.
JE: Como você pretende reverter
tal situação?
Esdras: É preciso entender que
essas críticas têm origem em demandas concretas dos profissionais e que as
soluções dependem somente do Crea-SP. O que falta é vontade política e boa
gestão. A primeira tarefa será atender a essas demandas, dando autonomia às
câmaras especializadas, fortalecendo as inspetorias, dotando-as dos
instrumentos necessários, principalmente fiscais, implantando os Creas
distritais, informatizando os serviços. Enfim, democratizando e
descentralizando.
JE: Quais os principais problemas
do Sistema Confea/Creas?
Esdras: O fato de ser um condomínio de
profissões e ainda não ter equacionado a forma de relacionamento entre elas
cria atritos e uma relação de domínio sobre as minorias. A falta de autonomia
das Câmaras especializadas de profissão é um problema grave. Embora elas
sejam os verdadeiros conselhos das profissões, estão subordinadas ao
plenário, cuja composição é proporcional ao número de profissionais por
categoria, e, administrativamente, ao presidente do conselho. Outro problema é
o conflito de atribuições profissionais. Além disso, desde a instituição do
voto direto, os pleitos têm sido fraudados em favor do candidato da situação,
em total desrespeito à vontade dos eleitores. Também é uma falha o fato de o
presidente ser eleito diretamente e com mandato de três anos e a diretoria,
indiretamente, por um ano. No recente Congresso Nacional de Profissionais (ver
matéria na página 4), foram encontradas soluções para parte desses
problemas. Se os conselheiros federais cumprirem suas deliberações, a próxima
eleição será por chapa e ficará instituído o congresso como instância
deliberativa máxima do conselho. Outras questões serão objeto de discussão
com os profissionais nas eleições deste ano, através dos programas dos candidatos. Se conseguirmos
evitar fraudes, teremos assegurada legitimidade nos pleitos.
JE: Você fala em fraudes nas
eleições...
Esdras: As eleições no Sistema Confea/Creas têm sido organizadas para favorecer o candidato da situação. A
fraude começa no regimento eleitoral, que costuma ser draconiano,
possibilitando a manipulação dos resultados das urnas. Isso é feito pela
comissão eleitoral escolhida em plenária, na qual a situação tem a maioria.
Uma das manobras diz respeito às urnas, em número pequeno e instaladas só nos
locais que favoreçam o candidato chapa branca. Não é fácil impedir tais
irregularidades, mas vamos denunciar cada casuísmo e responsabilizar os
fraudadores.
JE: Como fica a questão da
eleição por chapa à qual você se referiu?
Esdras: Em princípio, a eleição direta é só
para presidente do Confea e dos Creas. Contudo, a Lei 9.649/98 dá poderes ao
plenário para promovê-la também para a diretoria. Assim deliberou o Congresso
Nacional de Profissionais, mas falta a decisão do plenário do Confea. Como a
eleição por chapa (presidente e diretoria) tende a favorecer candidaturas
compromissadas com os profissionais, não se sabe como será neste ano.
Quem é Esdras
Esdras Magalhães dos
Santos Filho é engenheiro civil formado em 1981 pela Faculdade de
Engenharia de São José dos Campos. Funcionário do Cepam (Centro de
Estudo e Pesquisa da Administração Municipal), exerce também a
profissão na área de projetos e execução de obras, como autônomo.
Trabalhou na Secretaria Estadual do Abastecimento como assessor do
secretário, na Urbanizadora Municipal de Guarulhos como diretor técnico
e no Instituto de Proteção ao Vôo como técnico em tráfego aéreo.
No movimento classista, é conselheiro da
Associação de Engenheiros e Arquitetos de São José dos Campos e do
Crea-SP, além de representante dos engenheiros paulistas na FNE
(Federação Nacional dos Engenheiros). Foi presidente do Sindicato dos
Engenheiros no Estado de São Paulo – gestão 1992-95, vice-presidente
do Crea-SP no ano de 1996 e presidente do Confea de junho de 1997 a
janeiro de 1998. |
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