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|   Como
      qualquer desestatização, a concessão de estradas à iniciativa privada
      prometia um mundo de melhorias. As nove empresas que entraram no setor
      assumiram o compromisso de realizar manutenção, prolongamento, duplicação
      de rodovias e construção de novas pistas. O argumento do governo para
      privatizar 2.338 quilômetros era “garantir a recuperação e a
      modernização das principais estradas paulistas”. Para quem viaja por
      elas, contudo, a mudança se traduziu em mais uma facada no bolso, com a
      criação de 55 novos postos de pedágio e o aumento desse tributo em
      134%. Para percorrer, por exemplo, os 82 km entre as cidades de São Paulo
      e Valinhos, dispende-se, num carro de passeio popular, R$ 6,80 de combustível
      e R$ 9,60 de pedágio. Antes dos aumentos da gasolina, a diferença era
      ainda mais chocante. Na avaliação de Celson Ferrari, diretor do CRE (Conselho
      dos Representantes dos Empregados) do Dersa (Desenvolvimento Rodoviário
      S.A),  o
      alto custo do pedágio é resultado da maneira pela qual a privatização
      foi realizada pelo Estado, “ao adotar uma forma equivocada de licitar a
      concessão das rodovias”. 
      Segundo ele, em primeiro lugar, foi onerosa, pois, ao contrário
      de qualquer concorrência que busca produtos de igual qualidade com menor
      preço, partiu de uma tarifa pré-estabelecida. 
       Além
      disso, as concessionárias comprometeram-se a construir, com o dinheiro
      do pedágio, trechos novos ou prolongamentos de estrada, outra causa dos
      aumentos. De acordo com Ferrari, os representantes do CRE são contrários
      a isso e defendem que o pedágio cubra apenas a manutenção da estrada,
      enquanto os recursos para novas construções sairiam de imposto pago por
      todos os contribuintes. “Isso gera emprego, diminui o Custo Brasil,
      através de redução dos custos de transporte e promove o desenvolvimento
      da região”, afirmou. Os recursos para isso poderiam vir do 
      ônus pago ao Estado pelas concessionárias, sem destinação
      especificada no contrato. 
      Outro ponto questionado pelo CRE do Dersa 
      é a redução dos pedágios dos caminhoneiros que trafegam pelas
      estradas paulistas. Em 1998, o governo do Estado concedeu 20% de desconto
      ao transporte de carga. Como as empresas não aceitaram e cobram
      integralmente, o benefício é um subsídio estatal, que corresponde a R$
      1,2 milhão ao mês.  Contudo,
      mesmo com o alto pedágio, o compromisso não está sendo cumprido e, em
      agosto, o governo ameaçou rescindir os contratos devido a atrasos em
      obras e suspendeu futuras licitações até que as atuais estejam
      consolidadas. Apesar de merecer destaque na imprensa por semanas seguidas,
      o problema ainda não recebeu solução satisfatória. A Comissão de
      Concessão da Secretaria Estadual de Transporte garante que o Estado vem
      fazendo a sua parte, de acordo com o que estava previsto nos contratos de
      privatização. Seguindo o raciocínio do CRE do Dersa, isso pouco
      representa, já que justamente no modelo de privatização residem os
      problemas. Para piorar, outro instrumento previsto para defender o
      contribuinte é a Agência Reguladora de Transportes de São Paulo, que,
      por enquanto, continua no papel. O projeto para sua criação está em
      fase de estudo pelo governo e ainda não foi enviado à Assembléia
      Legislativa. 
       Problema
      generalizado Se
      algo pode ser dito em defesa da situação no Estado de São Paulo é que
      as concessões federais padecem dos mesmos males. Os cronogramas de obras
      estão atrasados, embora, segundo a Folha de São Paulo de 7 de agosto,
      seis empresas tenham recebido financiamentos de R$ 504,4 milhões, 
      corrigidos pela 
      TJLP (Taxa de Juros 
      de Longo Prazo), que corresponde atualmente a 14,05% ano, mais 5%.
      Uma delas, a Renovias, administra também rodovias concedida pelo
      Estado de São Paulo na região de Campinas e impôs o maior aumento de
      custo proporcional. O preço do único pedágio antes da concessão
      corresponderia hoje a R$ 4,64. Mas o tributo na região saltou para R$
      23,80, num aumento de 412,93%. Nesse
      cenário, parece não haver outra alternativa cabível a não ser rever o
      modelo adotado e corrigir os contratos de concessão, levando em conta o
      interesse do contribuinte paulista. 
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