Levantamento do Departamento de Economia da Abdib (Associação Brasileira
da Infra-Estrutura e Indústrias de Bases) aponta que o setor terá, até
2003, investimentos de US$ 215,4 bilhões em 1.318 projetos nos segmentos
de energia elétrica, petróleo, gás, transporte, portos,
saneamento, papel e celulose, cimento e mineração. O estudo faz parte do
banco de dados do Infra, mantido em parceria com a Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos), órgão do ministério de Ciência e Tecnologia, que
registra todos os empreendimentos nesses setores. Os totais de
investimentos por região, em bilhões de dólares, são: Norte, 28.487;
Nordeste, 24.636; Centro-Oeste 21.829; Sudeste 103.923 e Sul,36.542.
Segundo Ralph Lima Terra, vice-presidente executivo da entidade, 465
projetos já estão em andamento, entre os quais o Gasoduto
Bolívia-Brasil, que está em
fase final no trecho entre São Paulo e Porto Alegre. Os 853 projetos restantes totalizam US$ 170,1 bilhões, dos
quais US$ 85 bilhões sairão da indústria nacional, boa parte financiada
pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O
restante será capital estrangeiro vindo de diversas partes do mundo. “O
capital não tem pátria, procura oportunidades e bons projetos, o
investidor aplicará onde tiver mais segurança e retorno. É a lei no
mundo de economia globalizada”,
avaliou.
De acordo com Terra, a idéia é chegar a 2003 com um perfil de
investimento na área de infra-estrutura de 65% de capital privado e 35%
estatal. Embora considerados viáveis, os planos estão sujeitos às
intempéries da economia nacional e aos entraves aos investimentos, como o
alto custo de financiamento.
Energia
Se
as previsões da Abdib se concretizarem, o setor de energia elétrica
será o líder nos investimentos, levando US$ 90,8 bilhões até 2004, aí
incluída a geração de energia termelétrica por gás natural. Embora
esteja em pleno processo de venda das energéticas, o governo deve
financiar os investimentos por meio do BNDES, o que sugere uma
contradição. “Isso é uma distorção resultante da ausência do
investidor privado no mercado brasileiro durante anos. Atualmente, a
única fonte de recursos de médio e longo prazos é o BNDES, que tem
taxas altas se comparadas às internacionais. Precisamos abrir outras
fontes.” Um exemplo, segundo ele, foi o Unibanco, que garantiu os
recursos às empresas que construíram o Gasoduto Bolívia-Brasil. “Isso
já é reflexo dessa mudança de padrão. É assim no mundo inteiro, mas
é necessário que tenhamos, por exemplo, moeda forte”, advertiu.
Encerrando a sua segunda década perdida, há quatro ou cinco anos, o
Brasil não vê o seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer de forma
significativa. No entanto, o consumo de energia tem aumentado 5% a
6% ao ano, o que, na opinião
de Terra, mostra a capacidade
de crescimento da sua economia. O país tem um grande mercado de consumo e
uma enorme demanda reprimida por qualidade de vida. “Temos que cuidar
para que as garantias mínimas necessárias sejam dadas ao investidor”,
afirmou. Entre as medidas consideradas estritamente necessárias, está a
reforma tributária e fiscal.
Empregos
Apesar
dos números vultosos, os projetos não devem servir para resolver o
problema do desemprego no país. Com os investimentos previstos, devem ser
criados em média 25 mil novos empregos por ano, totalizando 100 mil até
2004. Melhor que nada, mas uma gota no oceano da atual crise,
considerando-se o índice apurado na Grande São Paulo, que já atinge 1,8
milhão de desempregados.
Contudo, Terra informou que o setor da infra-estrutura não vem eliminando
postos, além de gerar uma cadeia de empregos indiretos, como os
fornecedores de equipamentos de peças e serviços, beneficiados à
medida que cada projeto for executado.
Independentemente
do número de vagas a serem criadas, seguramente um dos pontos importantes
será a qualificação da mão-de-obra. O Brasil terá que formar
operadores de sistemas de infra-estrutura, que possam planejar, comprar
materiais, fabricar e operar. E, para isso, muitas empresas precisarão
requalificar os seus
funcionários.
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