Um dos desafios dos profissionais da
      área técnica é restaurar monumentos históricos adaptando-os à
      atualidade. É o que pretende fazer a Diretoria de Engenharia e Obras da
      CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na Estação da Luz. De
      acordo com o assistente técnico executivo da empresa, engenheiro Renato
      Penna de Mendonça, essa irá receber três linhas de trens e estar
      integrada ao metrô, devendo ter fluxos diários da ordem de 500 mil
      passageiros – hoje são cerca de 60 mil.
      
      A idéia é torná-la funcional sem descaracterizá-la e, para isso, a
      CPTM já dispõe de verba inclusa no orçamento de US$ 100 milhões
      aprovado pelo Banco Mundial para o projeto Integração Centro e pretende
      atuar em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura. Segundo Penna,
      será preciso fazer subfundações no prédio centenário, cujo término
      da construção data de 1901.
      
      Ele garantiu ainda que não há risco de o prédio desabar, embora as
      plataformas laterais estejam interditadas pelo Contru (Departamento de
      Controle do Uso de Imóveis) devido a infiltrações e alguns fios
      desencapados. Penna acredita que, se a licitação for feita ainda em
      2000, a obra deverá estar concluída em três anos.
      
      Cenário distinto
      A concepção de restaurar levando em consideração
      a necessidade de adequar a obra aos tempos modernos, em que o cenário
      urbano é totalmente distinto, também é a linha de pensamento do
      engenheiro Ronaldo Ritti Dias, responsável pela Divisão de Restauro de
      Patrimônio Histórico da Concrejato. A empresa efetua atualmente, entre
      outros, a recuperação da Catedral da Sé e da Casa do Grito.
      
      Segundo exemplificou ele, em uma obra tombada, pode-se fazer uma estrutura
      metálica nova para adaptá-la à utilização como teatro ou cinema, com
      capacidade para um determinado número de pessoas. Ainda de acordo com
      Ritti, essa é uma visão recente. "Há anos, a idéia era muito
      conservadora. Era feita restauração de certa edificação, mas não
      tinha utilização e se deteriorava novamente em cinco anos. Hoje, a
      concepção é de que um prédio histórico tem que ser funcional e ter
      autogestão." Portanto, é necessário dar condição de uso, o que
      significa instalar equipamentos como elevadores e ar condicionado e
      obedecer às atuais normas de segurança e de acesso a deficientes
      físicos. Para ele, é justamente isso, associado à manutenção
      periódica da obra, o que aumentará a sua vida útil.
      
      Recuperação
      A idéia de autogestão e funcionalidade estará bem
      caracterizada quando a Concrejato concluir a restauração da Catedral da
      Sé, no final do próximo ano. "O objetivo é fazer com que essa
      igreja seja auto-sustentável, tornando-a um espaço museológico",
      esclareceu Ritti. O visitante poderá apreciar seu estilo gótico — que
      já estava ultrapassado na época de sua conclusão em 1967, mas em alta
      quando foi iniciada em 1911 — e as várias inserções tipicamente
      brasileiras, representando a fauna e a flora.
      
      O Contru interditou em julho último a Catedral devido à existência de
      problemas estruturais. A Concrejato identificou os pontos de risco e a Sé
      passou a ter atividade parcial. Para a restauração, há muito por fazer:
      "Na realidade, ela ficou inacabada. No projeto original, havia 14
      torres pequenas que não foram colocadas, o que faremos agora. O teto
      ficou aberto e a chuva deteriorou a estrutura, inclusive a parte elétrica.
      Tivemos que isolar uma área porque estava dando choque na parede. A parte
      artística também foi bastante afetada pelos vazamentos e trincas, até
      os vitrais, quase todos importados, de grandes ateliers italianos.
      Fizemos já uma retirada parcial de alguns com risco iminente de queda e
      protegemos os que estão lá. Será feita uma restauração geral em todos
      eles."
      
      Com relação à Casa do Grito, que data do início do século passado, o
      problema maior, segundo Ritti, foi causado por intervenções mal-feitas.
      "E a obra, da Secretaria Municipal de Cultura, ao longo dos anos foi
      sofrendo todo o desgaste de uma estrutura sem manutenção. O telhado
      começou a deformar, as paredes a apresentar trincas e a casa agora está
      sendo restaurada para ter condições de utilização. Ela está sendo
      adaptada para ser um espaço cultural, de visitação pública",
      acrescentou. Interditada pelo Contru, ela deve ser reaberta neste mês,
      para quando está prevista a conclusão do trabalho.