PLÁSTICO BIODEGRADÁVEL COMEÇA 
A SER COMERCIALIZADO EM JULHO

Em uma parceria entre o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Universidade de São Paulo e Copersucar (Cooperativa de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo Ltda.), foi desenvolvida a tecnologia de produção do plástico biodegradável, cuja resina sem aditivos decompõe-se em cerca de 120 dias. O projeto teve início em 1991, com apoio do PADC (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico), custou cerca de US$ 7,5 milhões e já se tornou realidade. A Copersucar passa a comercializar o produto em julho deste ano, fabricando, inicialmente, duas toneladas de resina por mês em uma unidade piloto. Essa quantidade será ampliada para 50 toneladas anuais e, em escala industrial, para 10 mil. O setor sucroalcooleiro começa a investir num mercado considerado promissor — o Brasil consome 1,6 milhão de toneladas de resina plástica por ano e o valor do negócio alcança US$ 1,7 bilhão para o segmento de resinas e US$ 3,3 bilhões aos produtos transformados.

Se para os usineiros a inovação representa cifras, ao ambiente é um grande alívio. Segundo dados do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), em média, são reciclados no Brasil 15% do plástico filme, 15% do rígido e 21% do PET (embalagens de refrigerantes, por exemplo). Na Capital, de acordo com a Prefeitura, das 282 mil toneladas de lixo produzidas pelo paulistano anualmente, apenas 2.760 passam pela coleta seletiva. Dessa fração, os plásticos representam 7%. Assim, sobra muita coisa nos aterros sanitários e lixões, que leva entre 40 e 500 anos para se decompor.


Tecnologia
A tecnologia desenvolvida no IPT concentrou-se em dois polihidroxialcanoatos, conhecidos como PHB, e o seu copolímero, PHB e HV. No processo, cultivam-se as bactérias a partir do açúcar da cana em fermentadores até que atinjam a quantidade desejada. Após isso, desequilibra-se a sua alimentação exagerando-se na quantidade de açúcar para que acumulem o polímero. Quando se chega a um nível suficiente, arrebentam-se as células onde estão as bactérias e extraem-se os grânulos, que já são a resina, faltando apenas a sua purificação.

De acordo com a engenheira química Marilda Keico Taciro, "de modo geral, eles se assemelham ao polietileno e poliestireno", com potencial para substituir o plástico utilizado em embalagens, frascos e filmes. "Além disso, são biocompatíveis, tendo uma aplicação na área médica. O PHB é utilizado para fio de sutura e alguns tipos de prótese e até a suporte para implante de orelha", completou Marilda. Ela explicou ainda que há diferenças entre as duas resinas: "O polímero é muito quebradiço, o que torna seu uso mais limitado. Houve, por exemplo, testes para sugadores odontológicos, que são descartáveis; o copolímero já é mais flexível, tendo aplicação mais abrangente." Assim como as características finais, o tempo de decomposição dependerá da engenharia do produto, ou seja, do aditivo (plastificante, corante etc.) que for colocado na resina. Mesmo assim, não há como comparar. "Em se tratando de um frasco, por exemplo, o biodegradável levará um ano ou dois no máximo, dependendo do local de descarte", assegurou.


Estratégia
O plástico biodegradável também vem ao encontro de interesses estratégicos para o Brasil: o desenvolvimento da alcoolquímica em substituição à petroquímica e a otimização dos recursos das usinas de cana. A idéia da Copersucar é que o processo seja auto-sustentável, conforme esclareceu Marilda. "Utiliza-se uma fonte de carbono que é o açúcar e solventes que são subprodutos de destilação de álcool. Procuraram casar um ciclo completo dentro da própria fábrica. Eles dão preferência ao polímero, porque o copolímero precisa de um insumo não feito na usina." A engenheira lembrou ainda que já houve uma iniciativa parecida no exterior, a partir do açúcar de beterraba, mas não alçou grandes vôos pelo alto preço. "A Copersucar encontrou um produto que é capaz de fazer a um custo que ninguém consiga competir." O próximo passo é fabricar o polímero a partir da celulose do bagaço da cana.

De acordo com a farmacêutica bioquímica do IPT, Luiziana Ferreira da Silva, a idéia também tem ramificações no instituto, o qual está em fase preliminar de estudos de um outro material que se assemelha mais à borracha. "Nesse caso, vimos tentando produzir a partir de sacarose e de óleos vegetais. Estamos associados à Universidade Estadual do Norte-fluminense, mas falta o parceiro que financie o projeto."

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