RÉPLICA
DA NAU CAPITÂNIA BASEIA-SE |
Muito se tem contado e cantado sobre a bravura
daqueles que se aventuraram a cruzar o Atlântico – o mar tenebroso –
dando seqüência à febre expansionista de Portugal. Pouco se sabe,
contudo, sobre a construção das embarcações que os trouxeram às
terras brasilis. Agora, como parte das comemorações dos 500 anos, foi
feita uma reprodução da Nau Capitânia comandada por Pedro Álvares
Cabral, lançando alguma luz sobre esses engenheiros quatrocentistas. O
projeto, coordenado pelo Clube Naval do Rio de Janeiro, com apoio do
Instituto Memorabilia, foi inspirado no anteprojeto da réplica da nau
São Gabriel, utilizada por Vasco da Gama quando da descoberta da rota
marítima para as Índias em 1497 – alguns historiadores afirmam ter
sido essa a mesma embarcação na viagem ao Brasil. O autor do anteprojeto é o almirante Rogério D’Oliveira, presidente da Academia da Marinha de Lisboa e estudioso da Engenharia Naval dos séculos XV e XVI. Os desenhos fornecidos por ele aos brasileiros foram baseados em investigações sobre o século XVI. "Do século XV, não se conhece qualquer registro histórico sobre as técnicas seguidas pelos construtores. Os segredos do ofício eram transmitidos de pais para filhos no maior sigilo. Só a partir de 1550, começaram a surgir os primeiros manuscritos", informou. Segundo o historiador Eduardo Bueno, autor do livro "A Viagem do Descobrimento", a caravela (anterior à nau) constitui uma das maiores obras do engenho lusitano. "Sua construção foi a base a partir da qual a indústria naval portuguesa adquiriu um impulso espantoso. Nos estaleiros de Lagos e Lisboa, floresceu uma das primeiras indústrias com tecnologia de ponta européia e uma bem paga elite profissional de carpinteiros e calafates iria revolucionar a economia." Cinco séculos depois, a réplica construída e em fase de testes na Base Naval de Aratu, na Bahia, contou com as facilidades do mundo contemporâneo e a consultoria histórica do francês Henri Mocey. "Na aparência, ela é igual à de Cabral, na parte submersa é um navio moderno", contou o superintendente do projeto, comandante Miguel Ângelo Silva da Fontoura, do Clube Naval do Rio. Diferente da original, totalmente feita em madeira, essa utiliza também fibra de vidro na sua estrutura. São 28m de comprimento, a altura máxima do casco é de 12,5m e a área vélica é de 397m2. Também oferece muito mais conforto e segurança aos seus 35 tripulantes e passageiros, dispondo de motores, ar-condicionado, fogão elétrico e sistemas de comunicação. Responsável pela construção que levou um ano e meio e sofreu atrasos devido à chuva e à escassez de recursos, o comandante Cláudio da Matta imagina que seus ancestrais tenham enfrentado obstáculos maiores. "As dificuldades técnicas eram enormes. Era tudo de madeira maciça e não havia parafusos, só encaixes." A nau que custou aproximadamente R$ 3 milhões foi feita com recursos dos Ministérios da Cultura e Esportes e Turismo e pertence à União. Em 18 de abril, ela parte para Porto Seguro para as comemorações do dia 22. Em 30 de abril, participa da parada naval no Rio de Janeiro e então torna-se um museu flutuante. |