LIÇÕES DO 1º DE MAIO |
Tivemos um 1º de Maio marcado por forte
movimentação popular. Houve os eventos da Força Sindical e da CUT, as
invasões de prédios públicos do MST e a nova greve dos caminhoneiros.
De todos, o mais impressionante foi a comemoração do 1º de Maio da
Força Sindical. Os jornais noticiaram um público de 900 mil pessoas.
Recorde absoluto. A última vez que São Paulo viu um evento político desta magnitude foi o comício das Diretas-Já, na Praça da Sé. Como se sabe, o comício foi o ponto culminante de um processo político que começou com o surpreendente desempenho do MDB, nas eleições de 1974, e abriu caminho para a eleição do presidente Tancredo Neves e o fim do regime militar. Embora sem a importância histórica do evento das Diretas-Já, o evento marca o retorno da capacidade do movimento sindical mobilizar grandes multidões no Brasil. A novidade foi ainda maior porque o evento recorreu a meios nada ortodoxos para reunir tanta gente. Imitando os rodeios, os shows de música sertaneja e os programas de auditório, com sorteios e outras iniciativas, a Força Sindical mostrou-se capaz de atrair quase um milhão de pessoas para a festa do 1º de Maio. Ao slogan "O trabalhador tem a Força", a Central Sindical juntou as bandeiras da redução da jornada de trabalho e do sindicato nacional dos aposentados. Grandes mobilizações populares são sempre processos complexos em que se misturam motivações e o clima político do País. E parece haver pouca dúvida quanto ao ar de tempestade percebido no mar de lama da corrupção, no desemprego elevado, na precarização das relações de trabalho, na crescente concentração de renda que assolam o País. Se não bastasse, a caravela do descobrimento, aquela que não navega, simboliza o fiasco das comemorações dos 500 anos e o ridículo desempenho da balança comercial. Único País do mundo a ter déficit comercial de US$ 1 bi com os EUA, todos os outros tem superávit, o Brasil ainda é ameaçado com retaliações comerciais pelo Departamento de Comércio Americano e publicamente repreendido pela secretária Madeleine Albright. Retornando ao tema, há quem veja sinal de fraqueza nos meios heterodoxos de mobilização. A meu ver, são sinal de sintonia com a vontade popular. Os meios heterodoxos de mobilização são sistematicamente promovidos pela própria atividade das empresas e mídia televisiva. O público acostumou-se a responder e gosta dessas formas de apelo. Isso não significa que esteja menos consciente ou que não estava ligado na mensagem de protesto contra o atual estado da União, pelo qual um brasileiro rico tem renda equivalente a 50 pobres, de acordo com o IBGE. Ao contrário. Ouso pensar que talvez esteja até mais consciente e perceba a necessidade de novas formas de mobilização para alcançar êxito na luta contra a miséria e o atraso e a subordinação da política econômica aos grandes interesses financeiros. Ademais, é preciso lembrar que até o comício das Diretas-Já precisou do apoio explícito do Governo do Estado. O grande governador Franco Montoro facilitou o que pôde a mobilização popular, liberando catracas e funcionários públicos, incentivando a presença popular. À época, não é demais lembrar, os defensores do regime militar também tentaram minimizar a participação e a consciência popular. Também a greve dos caminhoneiros mostra a capacidade de inovar do movimento social. O movimento se organiza através dos rádios da comunicação de trabalho dos motoristas, concentra-se nos pontos de passagem dos grandes eixos de transporte do País e mobiliza uma categoria com amplo predomínio do autônomo: o motorista que dirige seu próprio caminhão. Entre as suas reivindicações estão temas de interesse corporativo, mas também de interesse geral para a sociedade. Os caminhoneiros pedem estradas melhores, que todos desejamos, e mais segurança onde o roubo de cargas se tornou a versão moderna da pirataria no Brasil e os comboios de segurança privada já se tornaram imagem regular. Tudo isso não significa o fim dos meios convencionais de mobilização. Em São Bernardo, a CUT promoveu o seu tradicional 1º de Maio, com grande reunião de lideranças sindicais e população local. Não é casual tudo isso neste ano. Logo adiante teremos eleições e a oportunidade de renovar as lideranças políticas dos municípios com gente mais preparada e mais comprometida com os brasileiros. Será outra oportunidade para recuperar um atraso de séculos na gestão transparente e voltada ao munícipe da coisa pública local. Para nós engenheiros, mais ainda os sindicalizados, o 1º de Maio deixa uma mensagem. Precisamos refletir sobre as mudanças na sociedade a nossa volta e criar novas formas de mobilização da nossa categoria. Eng.
Paulo Tromboni de Souza Nascimento |