O encerramento do II Congresso Nacional de Direito do
Trabalhador e Processual do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da
15ª Região, realizado em Campinas nos dias 15 e 16 de junho, remete-nos
a priscas eras de nossa formação escolar, em que aprendíamos as famosas
fábulas de Esopo, com seus conceitos de ética e moral, como a do lobo e
o cordeiro.
— Como vou sujar água - diz o cordeiro - se estou a jusante desse
rio caudaloso do qual você, senhor lobo, é o dono?
Com essa avalanche de reformas denominadas de "modernidade",
sinônimo perfeito do neocolonialismo, vem a criação do Estado Mínimo e
o povo continua sujando as águas límpidas e tranqüilas do monetarismo
apátrida.
Esses vôos nos vêm à mente quando cotejamos as conseqüências da
implantação da Medida Provisória 1.950/95, já na sua 64ª edição,
que outorga ao presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho) o poder
de aplicar o efeito suspensivo nas sentenças dos Tribunais Regionais.
Porém, essa preciosa arma da flexibilização global não se mostrava
suficiente, era necessário algo mais. E no bojo da reforma do
Judiciário, um projeto, que tramitou pela Câmara dos Deputados e segue
para o Senado, diz que o Dissídio Coletivo — o último recurso ao
trabalhador — só poderá ser instaurado com a anuência de ambas as
partes, ou seja, patrões e empregados devem encaminhar uma solicitação
conjunta. Como uma mordida de cobra, o veneno desse projeto tem o poder de
paralisar os direitos da classe trabalhadora — refiro-me a direitos e
não meras concessões patronais.
Contudo, são dignas de registro algumas das inúmeras posições que
foram ventiladas nesse fórum privilegiado. O presidente dos Magistrados
do Brasil, Jorge Uchôa de Mendonça, em seu pronunciamento na
abertura do evento, afirmou pesaroso: "Deixamos de ser poder para ser
função." O ministro do TST, Milton de Moura França, foi enfático:
"O fim da Justiça do Trabalho devido aos seus custos não leva o
Estado a uma falência econômico-financeira, mas sim à falência da
dignidade humana."
Alguns magistrados, encantados com a Comissão de Conciliação, crêem
que essa será a panacéia que acabará com os conflitos entre
trabalhadores e patrões. Assim pensa o presidente do TST, ministro Almir
Pazzianotto Pinto. Segundo ele, as questões conflitantes deverão
sempre ser resolvidas pela dita comissão, evitando-se a instauração do
Dissídio Coletivo.
Toda essa douta discussão, no entanto, acontece em meio aos assustadores
indicadores nacionais. Por exemplo, 52% dos trabalhadores não têm
carteira assinada. Enquanto o salário mínimo não passou de R$ 151,00,
os benefícios creditícios, financeiros e tributários estão estimados
este ano em R$ 34,32 bilhões, cifra superior ao superávit fiscal
previsto para 2000 de R$ 31,9 bilhões. E, mais aterrador, o desemprego
atingiu em maio 18,7% da População Economicamente Ativa da Região
Metropolitana de São Paulo. Isso significa 1,7 milhão de pessoas sem ter
como sobreviver.
Entretanto, é elogiável, mais uma vez, a iniciativa do presidente do
Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Eurico Cruz Neto, de
promover essa oportunidade, onde o embate de idéias certamente vem ao
encontro dos interesses do povo brasileiro, na defesa dos menos
favorecidos.
Eng. João Paulo Dutra
Diretor 1º tesoureiro do SEESP