Vivemos há pouco mais um desastre ecológico. De novo,
a Petrobrás conseguiu provocar um grave derramamento de óleo, dessa
feita num rio do Paraná. Irônico. O anterior, há poucos meses, também
foi num Rio ... de Janeiro.
Ambos mostram como os grandes sistemas sociotécnicos essenciais à vida
moderna podem falhar de maneira espetacular, prejudicando o ambiente e a
sociedade. O apagão que escureceu o Brasil meses atrás e o racionamento
de água em São Paulo são outros bons exemplos.
Poucos, entretanto, apercebem-se da importância das pessoas, em
particular dos engenheiros, na concepção, projeto, implantação e
operação desses grandes sistemas sociotécnicos. É comum o fascínio
dos números acometer economistas e platitudes beletrísticas os
sociólogos, levando-os ao equívoco de tratar gente qualificada como se
fosse os sacos de lixo de recolha de petróleo com que buscam limpar a
sujeira provocada por sua inépcia diretiva.
Evidentemente, a principal razão de havermos vivido um longo período sem
grandes problemas ecológicos, seguido de duas bobagens inacreditáveis,
somente pode ser atribuída à perversa política de pessoal dos últimos
cinco anos. Reduções sucessivas de quadros, tentativa de
desmoralização da Associação dos Engenheiros da Petrobrás e da
Federação dos Petroleiros e crença lúdica e mágica na potencialidade
de as máquinas regerem a si próprias, sem necessidade de controladores
humanos altamente motivados e qualificados, eis as causas profundas do
trágico binário de acidentes.
Somente a mentalidade de economistas ortodoxos e sociólogos distantes das
grandes organizações industriais, que nunca projetaram ou operaram um
sofisticado sistema sociotécnico, pode imaginar que se vai cortando e
desmotivando pessoal qualificado sem "desandar a maionese" do
seu funcionamento impecável. Bem fariam esses senhores, quando
encarregados de petróleo, se dedicassem atenção não já aos quadros de
engenharia altamente qualificados de que dispõem o Brasil e a empresa,
Deus os livre de tamanha heresia, mas, pelo menos, aos conselhos de seus
poucos colegas de profissão que algo entendem de tecnologia. Descobririam
rapidamente que um sistema sociotécnico é uma realidade tecnológica e
social complexa e articulada, que exige extrema cautela ao se empreender
mudanças. Principalmente no que tange às suas estruturas sociais, as
quais, desculpem os leitores a necessidade de reafirmar o óbvio,
compreendem o elemento ativo do sistema – as pessoas capazes de entender
problemas e implantar soluções.
Essas considerações vêm a propósito de lembrar ao Presidente da
Petrobrás que deveria dar ouvidos aos seus engenheiros, se pretende
elidir novos desastres ecológicos. Ao Presidente da República remete-se
um apelo para que reveja sua política de corte e desvalorização de
pessoal e sua obsessão pelo desmonte da herança "varguista" na
regulação das relações do trabalho.
Má gestão é o nome da administração que se esquece dos principais
recursos de uma organização: as pessoas que ali laboram. Segurança
pessoal, clima de justiça, boa remuneração e condições adequadas de
trabalho são elementos essenciais para prevenir desastres ecológicos.
De cara nova – A partir desta edição, o Jornal do Engenheiro,
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Eng.
Paulo Tromboni de Souza Nascimento
Presidente
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