CASOS CPTM E PETROBRÁS INDICAM FRAGILIDADE 
EM SISTEMAS DE SEGURANÇA

Acidentes em serviços especializados têm gerado apreensão entre profissionais da área técnica. O mais recente ocorreu em 28 de julho último, quando um trem da CPTM desgovernado chocou-se com outro parado para embarque e desembarque de passageiros na Estação Perus, matando nove pessoas e ferindo cerca de 100.

A conclusão da sindicância interna para apurar as prováveis causas da tragédia foi anunciada à imprensa no dia 12 último e pode ser considerada no mínimo simplista: não-calçamento das rodas pelo maquinista da composição, Osvaldo José Pierucci. Segundo o laudo, essa era a medida prevista e necessária para garantir a imobilização permanente, considerando que o trem, estacionado em uma rampa por falta de energia decorrente da queda acidental da rede aérea, estava com o freio pneumático inoperante por ausência de ar comprimido e o de estacionamento não foi suficiente para mantê-lo parado em declive, porque operacionalmente é destinado somente para fazê-lo em pátios ou estações em nível. Apesar de o operador ter afirmado em depoimento que executou os procedimentos de segurança, o relatório aponta haver indícios os quais o contrariam. "Não foram encontrados no local vestígios de pedra esmagada sobre o trilho, nem pedaços de madeira com esses sinais pelos pisos das rodas." O fato de não haver um calço no trem foi classificado de irrelevante pelo secretário dos Transportes Metropolitanos, Cláudio de Senna Frederico.


Barril de pólvora

Para um engenheiro do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) que não quis se identificar, essas linhas da CPTM são um "barril de pólvora". Na sua análise, para evitar futuros acidentes seria necessário mudar todo o sistema, haver inspeção mais rigorosa, principalmente nos componentes da rede aérea. Segundo ele, o freio pneumático deveria ter segurado a composição por mais de duas horas, o que não aconteceu e sequer foi considerado no laudo. O secretário negou ter havido falha técnica ou de manutenção. A queda da energia, na sua concepção, não faz parte da análise do acidente. Reduzir essas ocorrências, de acordo com ele, é desejável, mas ainda é uma meta distante. "Recebemos há seis anos 270km de ferrovia os quais não tinham investimento fazia décadas. Estamos fazendo o possível dentro de uma quantia considerável. Até hoje, foram aplicados R$ 2,5 bilhões."


Meio ambiente

Também causaram perplexidade os desastres ecológicos ocasionados por falhas operacionais em refinarias da Petrobrás – no Rio de Janeiro, em 18 de janeiro último, 1,3 milhão de barris de óleo vazaram na Baía de Guanabara durante cinco horas, e em Curitiba, no dia 16 de julho, foram 4 milhões por duas horas e meia, atingindo o Rio Iguaçu perto de 2 milhões. Esses seriam conseqüência da política de recursos humanos adotada pela companhia, segundo o diretor de Comunicações da Aepet (Associação de Engenheiros da Petrobrás), José Conrado de Souza. "Nos últimos dois anos, reduziu-se drasticamente a mão-de-obra. Partimos de 66 mil para 36 mil empregados concursados, e para aquelas operações de risco que requeriam o acompanhamento de ponta a ponta passou-se a não ter pessoal suficiente e confiar-se apenas na máquina." O gerente geral de Saúde, Meio Ambiente e Segurança da Petrobrás, Rui Fonseca, defendeu a empresa, afirmando não haver nenhum processo de redução do quadro funcional nessa. Ele confirmou, contudo, uma adequação ao longo do tempo devido à automação das unidades.

Para Conrado, agravante reside no fato de o enxugamento ter incentivado um bom número de funcionários experientes a irem embora. De acordo com ele, atualmente, dos cerca de 100 mil trabalhadores na atividade de petróleo, 64 mil são terceirizados, contratados nas portas das refinarias sem qualquer treinamento ou qualificação. Fonseca refutou a afirmação: "As empresas têm que atender uma série de requisitos."

O gerente da Petrobrás assegurou que, além do trabalho para recuperar as áreas atingidas, a companhia terá que atender planos de compensação determinados por órgãos públicos como a Secretaria do Meio Ambiente, os quais abrangem indenização e projetos de educação ambiental. O investimento de R$ 1,8 bilhão até 2003 visa projetos de automação e monitoramento.

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