Um dos palestrantes do Encontro de Ibitinga,
      Fernando Dolabela, é administrador de empresas, autor de vários livros,
      entre eles o "Ensino do Empreendedor", professor da Universidade
      Federal de Minas Gerais e desenvolveu uma metodologia para o ensino do
      empreendedorismo. A disciplina já foi testada em mais de 200 escolas
      superiores no Brasil e o projeto é trazê-la para São Paulo, tendo o
      SEESP como núcleo de introdução para os cursos de Engenharia. Em
      entrevista ao JE On Line, Dolabela falou sobre essa proposta e
      sobre a matéria a que se dedica.
      JE – Como funciona o ensino do empreendedorismo nas escolas?
      Fernando Dolabela – Esse processo é feito de forma simples,
      barata e eficaz. Os professores participam de um seminário comigo, em que
      conhecem a metodologia e eles próprios vão trabalhar com os alunos,
      desenvolvendo uma cultura empreendedora em sala de aula. Não se utilizam
      especialistas, não se criam cursos específicos e qualquer professor
      interessado em estabelecer uma rede de relações com as empresas do setor
      e com os órgãos da sociedade que apóiam a geração de negócios está
      apto a ministrar a matéria. Essa disciplina é implementada por curso. Na
      Engenharia Civil, por exemplo, os alunos iriam se relacionar
      principalmente com empresas da área. Há uma integração muito grande,
      porque, pela metodologia, o verdadeiro mestre é o empresário real que
      vem para a sala de aula. O aluno cria sua empresa, faz um plano de
      negócios, desenvolve seu empreendimento e tem a oportunidade de conhecer
      o mercado. O professor utiliza o livro "Oficina do
      Empreendedor", enquanto o aluno estuda pelo "O Segredo de Luísa",
      uma obra didática em forma de romance, construído em hipertexto, com
      observações e explicações sobre os diversos temas. Outra ferramenta é
      o software de plano de negócio "Make money".
      
      JE – O que significa ser empreendedor?
      Dolabela – É ser alguém com postura diferente, que inova e
      busca agregar valor para o cliente ao seu produto ou serviço,
      independentemente de ser empresário ou não. O funcionário tradicional,
      que domina a tecnologia e pronto, está em extinção. Só isso não
      resolve. O conhecimento técnico é fundamental, mas não é suficiente.
      É preciso que as pessoas sejam empreendedoras, entendam do negócio,
      saibam inovar, identificar e buscar no mercado oportunidades. Um grande
      exemplo é a Internet. Os maiores sucessos são de quem entendeu como
      atingir o cliente e não daqueles que são feras em fazer uma página.
      
      JE – Essa postura é fundamental. Mas todos estão aptos a ser
      empreendedores?
      Dolabela – Sim, mas ser empreendedor não é algo que você
      aprende através de um processo de absorção de conhecimentos
      tradicionais. Empreendedorismo diz respeito à estrutura de valores, forma
      de comportamento, de ver o mundo. É preciso admitir a instabilidade como
      processo rotineiro na vida. As pessoas na nossa sociedade são formadas
      com uma característica de estabilidade, de fuga do risco.
      
      JE – E qual seria o papel do SEESP nessa batalha por tornar os
      engenheiros empreendedores?
      Dolabela – A proposta é que o SEESP atue como o centro de
      difusão da idéia e tenha as universidades como clientes. O Sindicato vai
      adotar uma atitude de vanguarda, uma proposta concreta no sentido de
      reduzir o grau de desemprego do engenheiro. A grande bandeira do SEESP
      será essa, atender os associados no sentido de uma visão mais concreta,
      atual, moderna, viável de inserção social.