Como todos sabem, o Sistema
Anchieta-Imigrantes foi privatizado, com sua concessão ficando sob
responsabilidade da Ecovias.Os problemas verificados são diversos. Há
aqueles cuja responsabilidade, em princípio, não é imputada à empresa,
como o desbarrancamento de uma parte da encosta da Serra do Mar num trecho
da Via Anchieta, e os mais tradicionais, como os congestionamentos nos
feriados e finais de semana do período de férias de verão. Esses são
ocasionados não só devido ao alto volume de veículos, mas também pela
incompetência operacional da referida concessionária, que, como qualquer
explorador de serviços, procura o máximo de arrecadação com o mínimo
de investimentos, principalmente em recursos humanos.
Para piorar a situação, como se já não bastasse a série de
privatizações promovidas nesses últimos anos a preço de banana, agora
querem decididamente fazer o contribuinte de trouxa: reportagem veiculada
pela rádio Jovem Pan, na manhã de 25 de julho último, informava
que o governador Mário Covas pretende investir dinheiro público na
execução da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes. É mais um caso, a
exemplo do que ocorreu com a Telesp, de dinheiro público financiando
lucros da iniciativa privada. Até quando teremos que agüentar
situações como essas, quando pagamos IPVA e pedágios abusivos e cada
vez mais caros, que aumentam desbragadamente, aviltando nossos já magros
rendimentos, sem sequer sermos consultados e nem termos o retorno adequado
em serviços? Além disso, paga-se primeiro pelas obras — vide questão
das pistas marginais da Castelo Branco — e depois por pedágios –
repito – abusivos.
Na Europa, um dos eternos exemplos citados pelos burocratas exploradores
ao defenderem as privatizações, o cidadão tem duas opções: trafega
por rodovias nacionais, geralmente de pista simples e mão dupla, que
atravessam diversas cidades do país e, portanto, tornam o percurso mais
demorado (como a nossa BR 101), ou por autopistas, rodovias de pista
dupla, separadas por canteiros, que permitem altas velocidades, sofrendo
pouquíssimas interferências ao tráfego. Nessas últimas, há postos de
controle nas entradas e de pagamentos nas saídas; as primeiras são
gratuitas, cabendo ao Estado sua construção, operação e conservação.
O fundamental é que o condutor tem alternativa, ao contrário do que
ocorre no Brasil nos sistemas Anchieta/Imigrantes, Anhangüera/Bandeirantes,
Dutra/Ayrton Senna/Carvalho Pinto, entre outros: paga ou paga. E bem pago!
Agora temos na mira o saneamento e abastecimento de água. Ora, se no que
tange às rodovias, nas quais, em princípio, poder-se-ia dar duas
opções ao cidadão, como vamos fazer com o abastecimento de água?
Construir dois sistemas distintos e abrir uma torneira conforme a tarifa
cobrada? Ou vamos também nessa questão ficar à mercê desse governo
inescrupuloso, com tarifas reajustadas à vontade... dos concessionários?
Você decide. Discordar já é um bom começo, mas protestar é preciso,
antes que seja tarde.
Sérgio Eduardo Nadur
Engenheiro civil, especialista em
Tráfego Urbano e diretor da Aesabesp |